segunda-feira, 2 de julho de 2018

Interconectividade - O digital sobrepondo-se ao humano

O fenômeno das conexões digitais ganha, a cada dia, contornos maiores. Basta enxergar um pouco o que está no nosso entorno.
As pessoas manipulam seus aparelhos celulares em um frenesi quase inconsciente. A facilidade e o cômodo do que está ao alcance das nossas mãos são uma tentação irrefreável. Por isso, saltamos de um estímulo a outro, uma verdadeira viagem que nos desconecta do que está ao redor. E nesse processo de desconexão está o parâmetro mais interessante: deixamos de perceber o outro ser humano que está ao nosso redor. E, embora pareça dramático, caminhamos cada vez mais naquele sentido das ficções a que assistimos: desconhecemo-nos do outro ser humano.
E não é só isso: às vezes, esse desconhecimento soa como proposital, quase como se fosse detectar um inevitável incômodo na percepção do outro. Reconhecer o outro - e todas as suas vicissitudes - causa incômodo e estranheza.
É assim que nos encontramos nesse fenômeno digital e na tão propalada reflexão que se faz a respeito sobre as conexões. Só para termos uma ideia, a questão das conexões humanas virou tese e tema de cursos universitários.
Muito sério esse problema! É preciso aprendermos sobre a percepção do outro.
E não se trata de criarmos o movimento simplista das oposições: digital X humano. As tecnologias digitais são auxiliares do nosso desenvolvimento - valemo-nos de todos os aperfeiçoamentos digitais, que chegaram para oferecem-nos conforto e avanço sociais. O problema maior, o mesmo quando se fala de qualquer tecnologia, é a discussão do uso que fazemos dela.
Toda e qualquer tecnologia, por si só, é um elemento inerte. A vida se dá quando a utilizamos e damos significado a seus conceitos. E é aí que a porca torce o rabo: em certos momentos, tanto a utilização quanto a significação dos conceitos daquela tecnologia não nos remete a qualquer positividade... muito pelo contrário - valemo-nos das tecnologias que estão ao nosso alcance para o desconhecimento e o demérito dos que estão ao nosso redor.
Em certa instância - até reconheço que ainda está em pequena monta -, é o que nos acomete nos tempos de hoje. Em pequena monta, mas com uma progressão geométrica de aumento que é de assustar. E o cenário pode ser aqueles das ficções ditas acima: sociedades distópicas, em que os estranhamentos sociais são a tônica de qualquer povo; e que, ainda, verificamos um império de algum movimento técnico sobrepondo-se ao humano.
Ainda que a minha análise esteja tendente a uma situação de desespero, penso que há conserto... ou melhor, que há possibilidade franca de equação entre os conceitos digitais, tão necessários, e os humanos, tão essenciais.
E quando estamos em posição de envolvimento pedagógico com questões como a que se apresenta, precisamos ter disponibilidade de abordar o tema em nossos posicionamentos. Precisamos falar disso; precisamos refletir constantemente sobre o nosso comportamento a propósito; precisamos ouvir quando alguém tem algo a dizer sobre o assunto; precisamos nos formar (técnica e emocionalmente) sobre a questão; precisamos disseminar reflexões como essa.
O problema da interconectividade está no exercício cotidiano da percepção do equilíbrio entre as ferramentas tecnológicas e a consciência da alteridade.


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