quinta-feira, 30 de junho de 2016

O desenvolvimento do senso estético

Saber enxergar o belo deve ser uma competência a exercitar-se constantemente. Belo, aqui, está no sentido filosófico, e não midiático. O belo midiático atende a interesses e conveniências nem sempre balizadas por uma clareza da percepção - às vezes, a mídia faz com que eu enxergue o belo em situações ou pessoas a partir de aspectos discutíveis.
O belo, na percepção filosófica, está associado à ideia do senso estético (palavra, que, na origem grega, está associada à referência de quem se nota, de quem se percebe).
Podemos, por extensão e na simplicidade do espaço, refletirmos sobre a ideia da capacidade de desenvolver a percepção do que está ao nosso redor, em uma instância de integralização (ser integral) ao que nos acontece e está nos nossos caminhos. A variável de contemplação está nesse caminho de leitura.
Saber contemplar o que está à nossa vista é um ótimo exercício de percepção do mundo que nos cerca, em um valioso referencial de desenvolvimento humano. Como a contemplação está associada a um aspecto de desligar-se frente aos movimentos rápidos da vida, talvez esteja aqui - na compreensão do desenvolvimento do senso estético - uma ideia melhor apurada da apreensão da visão mais humanizada da vida.





quarta-feira, 29 de junho de 2016

Para refletir - A criança e a arte


terça-feira, 28 de junho de 2016

Anotações - Sobre o entusiasmo

Várias das situações pelas quais passei recentemente, acenderam-me a reflexão sobre a ideia de entusiasmo, essa máxima que, além de nos movimentar, faz-nos movimentar as pessoas que estão ao nosso redor.
Pois essa é uma das características principais do entusiasmo: envolver e motivar as pessoas com que nos relacionamos, criando uma rede integrada de realização. Nessa conjugação de esforços, a capacidade de reunir outras capacidades, inteligências, competências, habilidades, propósitos afins e energia a um direcionamento positivo torna-se uma referência extremamente valorosa nos dias de hoje. Não estamos sós... não faremos nada sem integrar-se a outros, que compartilham nossas definições, nossos propósitos e nossa vontade de realização.
Ao referenciar o entusiasmo como algo concreto e imbuído da capacidade de realização, no congraçamento de esforços e inteligências, passamos a ter mais possibilidades de concretização.
Isso tudo sem esquecer que ao entusiasmo devem ser somadas outras características naturais das variáveis de desenvolvimento: reconhecer o valor do planejamento e da disciplina; enfrentamento dos desafios e obstáculos que surgirem; capacidade de organização e de elaboração de processos que a sustentem ; investimento nas formações acadêmicas e intelectuais; investimentos nas formações humana e emocionais... e por aí vai.


segunda-feira, 27 de junho de 2016

A variável comportamental no processo de desenvolvimento humano

Vivemos tempos em que a formação técnica sobressai-se na verificação do desenvolvimento do ser humano. O sujeito é reconhecido pelos níveis de aspectos em seu currículo que atestam sua evolução e desempenho profissionais. Até entendo que é importante o quanto ele investiu na sua evolução técnico-profissional, mas o processo de desenvolvimento humano não é uma questão de mão única - é preciso que se verifique, à dimensão da formação técnica, o quanto foi investido, também, nas instâncias de evolução humana.
É aqui que entra a variável comportamental nas verificações de desenvolvimento. E entende-se, a propósito desta variável, o quanto de sua inteligência emocional está desenvolvida, nos aspectos de formação humana.
O sujeito é um ser complexo e suas relações do dia a dia também observam essa mesma complexidade. No cotidiano de seu viver, independente de o quanto está evoluído tecnicamente, é preciso associar os elementos de relações sociais, de integração humana e de equilíbrio emocional, que perfazem seus movimentos.
Sobretudo, porque vivemos em sociedade. E é em sociedade, que entram as considerações de humanidade, necessárias para as diversas apreensões das nossas trilhas. Sempre penso, nesse tópico, de um trecho do discurso da personagem de Charles Chaplin, no filme O Grande Ditador, em seus momentos finais: "... Mais do que de máquinas, precisamos é de humanidade..."... Para as máquinas e os sistemas, até nos detivemos bem, na elaboração e construção de seus processos; para as relações humanas, não nos esforçamos tão bem assim. Mal enxergamos o outro e sabemos de seus anseios. Mal cumprimentamos as pessoas que nos cercam (e quando o fazemos, é de um modo mecânico e desprovido de realidade). Mal sabemos o que fazer em situações reais de sociabilidade e de reconhecimento do outro.
E é, justamente, das apreensões dessas situações reais de sociabilidade e de reconhecimento do outro, que retiramos as competências e habilidades mais necessárias aos aprimoramentos de qualquer processo técnico e profissional. Todo e qualquer negócio deveria primar pela referência máxima de bem servir ao ser humano (que, normalmente, é chamado de cliente), em uma relação de satisfação e de contentamento tão perfeita o máximo possível, que esse mesmo ser humano transforme-se no principal divulgador do negócio. Ora, isso só é possível quando eu reconheço aquele dito cliente como um sujeito que é, dotado de emoções e de vicissitudes humanas, que apresenta uma teia de formações complexas e diversas, que precisa ser compreendido como tal.
É claro que a formação técnica e racional por que passamos é de suma essencialidade - é em nome dela, por exemplo, que consigo intelectualizar sobre as leituras que me chegam. O caminho é não priorizar essa ou aquela instância de desenvolvimento, mas associar aos nossos potenciais elementos do intelecto todas as variáveis de formação humana e emocional a que pudermos nos ater.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Anotações - Sobre tristeza e alegria

Há um belo poema do Drummond (Uma hora e mais outra), que nos traz uma reflexão interessante sobre a ideia de tristeza e alegria. No poema, o eu-lírico nos adianta a chegada de uma hora triste, sem dizer claramente qual é essa hora. Lá pelas tantas, depois de explicitar alguns momentos de nossa vida aos quais poderia ser atribuída a pecha de tristeza, o poema nos ensina a reviravolta da alegria: "...pois a hora mais bela surge da mais triste.". Um passo de esperança havia sido anunciado um pouco antes do final do poema: "Amigo, não sabes que existe amanhã?".
Essa, talvez, a marca dos caminhos da nossa vida: enfrentaremos todas as tristezas que puderem chegar, porque sabemos da existência de um amanhã.
Sobretudo, porque podemos construir novos amanhãs. Todos eles oriundos da aprendizagem dos caminhos de tristezas que enfrentamos. Claro que nada disso pode ficar ao sabor do acaso, do despreparo. No mesmo poema, um outro conjunto de versos nos aponta a reflexão: "Venceste o desgosto, / calcaste o indivíduo, / já teu passo avança / em terra diversa.".
Quando entendemos a vida um caminho dinâmico e propenso a novas experimentações, a ideia de tristeza pode ser relegada ao que ela é: um momento... um momento que pode ser vivido com meandros de aprendizagem. Até porque podemos "avançar em terra diversa".
E é quando conseguimos pensar a vida com o dinamismo que ela é, que podemos vislumbrar as modificações necessárias ao nosso entusiasmo, até porque é isso mesmo: "a hora mais bela surge da mais triste.".

terça-feira, 21 de junho de 2016

Anotações - "Desejo, ética e razão"



Empresto o título da coluna do ex-jogador de futebol Tostão, publicada no último domingo no caderno de esportes do jornal Folha de S.Paulo (19/06/2016, Pág. B5). E empresto, também, o primeiro parágrafo, que preciso transcrever na íntegra:


"Os seres humanos, mesmos os mais íntegros, vivem divididos,
em conflito, entre o desejo, a ética e a razão, 
que, com frequência, não combinam.".

Referia-se o Mestre Tostão aos percalços da troca de treinador da Seleção Brasileira de Futebol, estabelecendo relações extremamente interessantes entre as três variáveis essenciais do desenvolvimento humano: o desejo, a ética e a razão. Somos movidos pelo desejo. É o desejo que nos conduz aos caminhos de nossa evolução. Mas é a ética, que nos baliza aos rumos que consideramos corretos, segundo padrões de comportamento; e é a razão, que nos conforta os pensamentos.
Embora lá na coluna do jornal a premissa fazia referência aos caminhos do futebol brasileiro, penso que, tanto o título quanto o primeiro parágrafo (acima transcrito) possam ser motes para todos os caminhos profissionais e sociais que resolvermos trilhar.
A propósito das três variáveis que dão título à coluna (e, por empréstimo, a esta publicação), é preciso que saibamos dar o direcionamento positivo aos nossos desejos - são eles que nos motivam, lembrem-se. É o desejo de algo - material ou não - que condiciona os movimentos de elaboração dos rumos concretos que deveremos percorrer. Mas nas trilhas que nos levam àquele rumo, é preciso respeitar os ditames legais estabelecidos por uma coletividade - é aqui que entra a ética. A razão está fundamentada nos princípios lógicos - calcados em um pensamento científico - de condução das ideias.
Não deveria ser difícil. O problema está quando esquecemos o senso de coletividade e dos respeitos devidos em nome de uma conveniência qualquer. Faço questão, com a devida leniência do Mestre Tostão, de transcrever, também, o último parágrafo de sua coluna. Penso que eu não saberia como concluir melhor:

"No esporte, o que mais estimula os atletas durante as partidas são a vitória e o sucesso.
Na emoção do jogo, no desejo de vencer,
os jogadores, sem querer ou querendo, esquecem a razão e a ética.
Isso não atenua a responsabilidade do jogador, que tem de ser punido por seus atos ilícitos.
O excesso de regrinhas atrapalha o jogo, mas, sem regras claras, é o caos.".


segunda-feira, 20 de junho de 2016

Da imaterialidade das coisas - Reflexão poética da vida

Em nossa sociedade e em nosso tempo, de uma maneira geral, é quase certo que as pessoas atribuam um valor muito mais significativo às coisas materiais, às posses, ao que se vê ou ao que se pode pegar... Gostaria, na contramão desse senso, de propor aqui uma reflexão sobre a imaterialidade das coisas.
Como atribuir uma dimensão de valor material a um silêncio? Sobretudo, se o silêncio estiver sendo contemplado às margens de um regato ou de uma queda d'água, que cria uma contraposição - o silenciar de tudo, mesclado ao barulho da água... Já sentiu isso?
Já esteve sentado à escadaria de uma igreja de uma cidadezinha, quando o tempo parece suspenso? À frente da escadaria, uma dessas praças - com coreto e tudo - que parece ter sido desenhada, que convida os passantes a circular por sua calçada, em um jogo de sedução quase infantil... já viu isso? Já brincou, na confusão do sol e chuva, de caçar arco-íris pelo céu?... Já inventou seres fantásticos e nomes atrapalhados em brincadeira com as crianças?... Já parou, em sua caminhada séria e responsável, para admirar pequenos detalhes do dia?... 
Que dimensão de valor material atribuir a essas sensações?
Na imaterialidade das coisas o que conta é exatamente isso: as sensações. Já andou por uma estradinha, à noite, sem luz artificial, só o brilho da lua a banhar o caminho? E, para completar, ser agraciado por uma revoada de vagalumes, que cismaram de criar encantamentos de luzes. Já passou por isso? Já experimentou esse encantamento?
Pois é, quando se vivencia significativamente momentos como esse, parece que todas as questões materiais perdem o sentido. E não é só viver de poesia, como alguns críticos podem manifestar-se. Claro que precisamos de referenciais materiais, que nos deem conforto e segurança. Mas não podemos, em hipótese alguma, esquecermos da imaterialidade das coisas. Nossas vivências, certamente, preencheram-nos de sensações e de experiências que alimentaram as referências imateriais do nosso desenvolvimento... a tendência é perdermos isso. Ou, o que é pior, dar a relevância desmedida às conquistas materiais, atribuindo-lhes um valor maior.
Pense sempre, então, na imaterialidade das variáveis que a sua vida lhe atribuiu. É dessas sensações que o seu corpo e o seu espírito vão se alimentar para torná-lo resistente e capaz para as conquistas materiais.



quinta-feira, 16 de junho de 2016

Anotações - Ter um propósito

Quando se tem um propósito, viver e buscar a evolução torna-se um caminho mais fácil... Imagine uma vida em que não se tem motivações de caminhada e de busca e você terá um cenário no qual os rumos tornam-se desfocados e sem sentido.
Não sei se você assistiu ao filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de 2002. É um belo filme, independente de querer debater esse tema que apresento. A Amélie do filme é uma moça que leva uma vida sem cor e sem perspectivas, até que, por uma graça do destino, resolve impor-se um propósito: tornar alegre, emocionante e colorida a vida das pessoas. Não pense que a moça é só altruísta - ao ajudar as outras pessoas, ela acaba encontrando uma maneira de ajudar-se, também. (Se não assistiu ao filme e quiser dar uma olhada no trailer do filme, clique aqui.).
O estabelecimento de um propósito, tenha a dimensão que ele tiver, faz a diferença no seu planejamento. Experimente traçar um objetivo - mesmo que seja pequeno - de realização em um dado momento (é essencial que você estabeleça esse momento: na hora, no dia, na semana etc) e conduza-se, pelos caminhos, na estratégia e determinação de alcançar esse propósito naquele tempo determinado. A sensação de felicidade, quando você tiver realizado o tal propósito, não tem medidas.
Acredite, tudo é uma questão de hábito (como tenho aprendido) - quando um dos propósitos for realizado, você vai ficar com vontade de estabelecer-se outros propósitos (alguns maiores, outros menores; alguns com maior complexidade, outros nem tanto) e vai verificar que não há segredo para a realização da vida. Ou melhor, o segredo é exatamente é esse: o estabelecimento de um propósito.


terça-feira, 14 de junho de 2016

Anotações - O todo é maior que as partes

A frase está por aí, estampada em diversas mensagens motivacionais: "O todo é maior que as partes". A denotação óbvia não deixa muito espaço para longas reflexões - a consciência de coletividade é mais positiva que as ações individuais.
Quando podemos nos integrar nos exercícios sociais é que nos enxergamos mais fortes e capazes. A integração é a chave da otimização nos processos de evolução social. Nos ambientes corporativos, a discussão sobre esse tema dá-se nas variáveis de debates sobre a questão do trabalho em equipe.
O que é interessante, acerca desse tema de análise quase natural, é a grande dificuldade que temos de explanar sobre as relações de coletividade.
O ser humano, em sua evolução histórica, precisou estabelecer-se em grupos; via de regra, entretanto, há uma busca de individualidade ou, o que é pior, de uma equivocada consciência coletiva. É aqui que se desrespeitam interesses e atributos individuais na constituição do todo.
A verdadeira ideia de coletividade pressupõe que não haja indivíduo que deva sobressair-se sobre outro(s). Faz-se necessário que, em coletivo, percamos as atitudes e comportamentos particulares em detrimento dos interesses e pertinências do grupo. E é aqui que a porca torce o rabo - nossas instâncias culturais nos fizeram seres da conveniência e dos interesses singulares.
Em sendo o todo o resultado de várias partes, seria de se supor, na matemática das exatidões, que esse todo é exatamente a soma daquelas partes. Quando se pensa, contudo, em uma consciência de equipe, de integração social, há uma mágica: a soma das partes fica bem menor do que o todo que se apresenta.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Infância e o brincar

Os que trabalham com a Educação Infantil e pesquisam e estudam a importância do brincar no desenvolvimento das crianças sabem o quanto esse tema precisa ser, cada vez mais, dedicado às reflexões mais aprofundadas dos trabalhos com a Educação.
Vivemos uma época em que a ideia do brincar vem associada às variáveis de irresponsabilidade e falta de aprendizagem. Em algumas escolas, adiantam-se as referências dos processos de ensino nos trabalhos com as crianças pequenas - não é exagero dizer que crianças de quatro, cinco anos estão sendo submetidas a técnicas de repetição e de instrução, valorizando-se os pressupostos mecânicos de apreensão de conceitos. Temos registros de apostilas e de materiais paradidáticos como subsídios à Educação Infantil.
Em alguns casos, a despeito do dramatismo com que se veste esta informação, é possível pensar em uma situação de massacre, em que se esquecem as referências do que é importante para as crianças. A consequência é a imposição às crianças de um treino pedagógico inadequado para aquela idade. O cenário não é tranquilo de se analisar, uma vez que as próprias famílias, no afã de vangloriar-se das inteligências de seus rebentos, promovem, entre amigos que também têm filhos com idades semelhantes, competições absurdas de quem sabe mais.
É preciso que se respeite o caminho natural de evolução das crianças. E que, a propósito desse caminho natural, o brincar e os referenciais lúdicos não só fazem parte do desenvolvimento, como são facilitadores para apreensões que se fizerem necessárias mais tarde.
Ao brincarem, as crianças treinam mecanismos sociais, emocionais e psicológicos que terão importância fundamental nos caminhos de evolução. Nas brincadeiras, estão em jogo as compreensões de regras sociais, os treinos emocionais e um tanto de aprendizagem técnica, também. O brincar é uma variável tão natural, que as crianças nem precisam de muita coisa para entregarem-se às brincadeiras. Basta um estímulo bem direcionado - ou uma integração facilitada - e tudo pode acabar em uma gostosa brincadeira.
Do ponto de vista dos espaços escolares, é preciso valer-se do conceito que pode ser estabelecido nestas duas variáveis: brincar é importante; e as crianças não precisam de muita coisa para iniciar um espaço de brincadeira. Ora, cada vez mais, a Escola precisa assumir seu viés de um espaço privilegiado de favorecimento às instâncias de evolução pessoal. Está na Escola a possibilidade real de aprimoramento dos jovens (aprimoramento, no seu sentido máximo: social, cultural, acadêmico etc).
E, ao se trabalhar com crianças pequenas, a valorização e o estabelecimento de um espaço que propicie referências saudáveis do brincar e suas manifestações lúdicas é um caminho sólido de definição de um ser humano com mais preparo para os desafios que vierem pela frente.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Anotações - Inteligência: não há atalhos

Confesso que a reportagem recente de um programa de televisão sobre a existência de pessoas que estão buscando meios artificiais para o alcance da inteligência deixou-me preocupado. Na reportagem, soube-se da existência de um mercado de compra e venda de produtos sintetizados (líquidos e comprimidos), que prometem redimensionar o movimento cerebral para tornar a pessoa, digamos, mais inteligente.
A reportagem ilustrou o tema com dois jovens que creem nesta solução; a ficção já nos havia apresentado o assunto, com o filme Sem limites, de 2011, com Bradley Cooper e Robert De Niro nos papéis principais. Quem assistiu a este filme, já deve ter antevisto o principal problema dessa artificialidade: para manter o benefício e o ritmo proporcionados pelo medicamento, o personagem principal precisa valer-se do remédio todos os dias, estampando uma situação de dependência química que já sabemos onde vai dar.
Na vida real, os jovens declararam tomar os medicamentos (isso mesmo, no plural - cada um deles vale-se de uma diversidade de remédios) todos os dias, já há algum tempo.
Alguns especialistas na área neurológica foram ouvidos no programa e declararam o que já se podia imaginar - não há comprovação científica que ratifique a ideia da busca de uma dependência química que acelere o processo de inteligência. Em suma, não há atalhos.
Em que pese, supondo as mais diversas razões, a possibilidade da comunidade científica não interessar-se por dar aval a esse mecanismo artificial, creio que, para aquisição e desenvolvimento da inteligência, não há atalhos mesmo.
A inteligência é o mecanismo de aprimoramento de quem estuda. Estudar compreende elaborações complexas, determinadas e esforçadas de busca de apreensões e de leituras sobre os mais diversos tópicos do mundo que nos cerca. Quanto mais significativos e pertinentes ao nosso desenvolvimento forem esses tópicos, tanto mais a capacidade de inteligência pode ser aprimorada.


 

terça-feira, 7 de junho de 2016

Anotações - Eficiência e eficácia

Uma coluna, assinada por Adriana Gomes (Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas da ESPM), no caderno Negócios e Carreiras do jornal Folha de S. Paulo, no último domingo, abordou bem a questão da diferença entre eficiência e eficácia, no processo de evolução profissional. O título da coluna é Resolvedores de problemas (Folha de S. Paulo, 05 de junho de 2016, Pág. 3, Caderno Negócios e Carreiras).
Eficiente é o sujeito que desenvolve um trabalho do modo certo; eficaz é quem resolve o problema. Lá no texto, a autora coloca um exemplo clássico: existe uma poça de água em uma sala. A pessoa eficiente vai lá e seca a poça, rapidamente. O problema está, por um tempo, solucionado; a pessoa eficaz busca a origem do problema (um vazamento, talvez?) e age ali, resolvendo o problema.
No campo do desenvolvimento pessoal, temos que nos preparar para sermos bons profissionais - os que "são eficazes e agem no sentido de solucionar os problemas". São estas pessoas que alcançam prestígios em seus campos de atuação, posicionando-se em relação ao propósito de resolver as demandas que surgirem, observadas as variáveis que tangenciam a questão: "recursos financeiros, materiais e humanos, prazos e importância".
A ideia é que associemos em nosso processo de desenvolvimento a percepção de uma atuação que seja recomendada e bem reconhecida.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

"O que você deixou de ser quando cresceu?"

Uma publicação na internet, aparentemente sem autoria, deixou essa pergunta para mim... Confesso que fiquei atônito, até angustiado, com a questão. A vida nos reserva muitas mudanças de planos, e é até natural que seja assim, mas a pergunta não é tranquila de se pensar: "O que será que eu deixei de ser quando cresci?".
Na brincadeira de quando criança, ouvimos muito de nossas projeções para o futuro, para quando crescermos. É até fácil, já que o futuro será construído à base de preparo e dos processos naturais de evolução. E, se mudarmos de plano na jornada, tudo será visto com o beneplácito da variável do processo - estamos construindo os rumos do futuro.
Mas, e quando estamos crescidos? O que fizemos de nossa ventura rumo aos caminhos da construção de nossa identidade (social, pessoal, profissional etc.)? Conseguimos ser o que queríamos? Se houve mudanças de rota, como foi?... Foi simples?... Foi tranquilo? Foi preciso deixar algo essencial de lado, para a ideia do que somos hoje?
São perguntas que reverberam, em um moto contínuo filosófico: O que deixei de ser quando cresci?
Parece angustiante mesmo, porque guarda uma conotação de perda... Perdi algo importante no meu processo de crescimento biológico. Mas a leitura pode ir por outro caminho e a pergunta pode ser outra: Se o que deixei de ser quando cresci é importante para mim agora, é possível recuperá -lo? É possível resgatar esse algo que julgo importante para a continuada do meu crescimento?
Sim, o crescimento é contínuo. E o que quer que você tenha deixado de ser, está repousando em algum limbo, à espera de uma espécie de provocação. O que precisa ser repetido é a questão da importância - o que você deixou de ser é importante (necessário) agora?
Para essa questão, menos angustiante, penso, o esforço é o da capacidade de análise. Analise o seu momento: o que lhe falta é algum atributo que já foi característica sua? Ousadia, valentia, determinação, força de vontade, perspicácia, paciência, criatividade... algumas dessas variáveis podem já ter sido sua marca, sua estampagem. 
A principal referência que me acode nesse pensamento é a do arquétipo da Criança. Penso em algumas características da criança, que são recorrentes na idealização de um caminho de desenvolvimento: determinação, coragem, criatividade... Reflita sobre as variáveis de ser criança e algumas dessas instâncias virão a sua mente: a criança é determinada; a criança é corajosa; a criança é criativa... Ao meu ver, dois pressupostos fundamentais tornam a criança assim: ela gosta de experimentar e não tem medo de errar. Perdemos um pouco disso, à medida em que crescemos - comportamo-nos, na maioria das vezes, balizados pelo julgamento de uma sociedade que nos condena diante das referências de experimentação e da perfeição.
É bem possível que a reflexão sobre o arquétipo da Criança, no resgate de características que tínhamos e hoje nos faltam, possam bem redimensionar a questão do título desta publicação: "Quanto eu posso tornar a ser do que deixei de ser quando cresci?".

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Anotações - Ensinar e aprender

Nos caminhos da Educação, as ideias de ensinar e aprender são referendadas, às vezes, como integradas. Claro que elas se confundem nas estratégias e objetivos de um planejamento mínimo de trabalho pedagógico, haja vista que são complementares. Mas só isso, na minha opinião, complementares. Cabe ao professor observar e aplicar estratégias de ensino a um determinado tópico que ele, ou o sistema, julguem pertinentes ao desenvolvimento do aluno. Mas não para aí: é preciso que se verifique em que medidas essas estratégias possibilitaram a real aprendizagem.
É aqui que entram os processos de avaliação e suas análises de confiabilidade e de prática quanto à verificação das aprendizagens.
Sobrepondo-se a essa questão técnica, há uma reflexão filosófica, que, penso, vale a pena debruçar-se um pouco. Em termos de importância, a ideia de aprendizagem está acima da de ensino. Ensinar não deveria ser o mais importante; aprender, sim.
Como toda reflexão filosófica, não é uma variável simples de se elaborar. Como ensino e aprendizagem são complementares - uma existe em função da outra -, não se pode simplesmente propagar essa comparação de importância. O que, talvez, ressalte-se como ideia é que sem a aprendizagem - ou, melhor, a verificação dela -, não se pode falar em ensino.
Antes de encerrar, deixe-me dizer o que me motivou essas anotações. Encontrei-me com um querido amigo dias desses e, no meio das conversas a serem atualizadas, dissemos dos nossos tempos de professores colegas. E foi aí que soltamos a máxima: "Nós não estávamos preocupados em ensinar... estávamos preocupados com que os alunos aprendessem...".

(Ao amigo Antonio Cesar Leme que, embora prefira o frio ao sol, é uma pessoa boa e essencial...)