segunda-feira, 6 de junho de 2016

"O que você deixou de ser quando cresceu?"

Uma publicação na internet, aparentemente sem autoria, deixou essa pergunta para mim... Confesso que fiquei atônito, até angustiado, com a questão. A vida nos reserva muitas mudanças de planos, e é até natural que seja assim, mas a pergunta não é tranquila de se pensar: "O que será que eu deixei de ser quando cresci?".
Na brincadeira de quando criança, ouvimos muito de nossas projeções para o futuro, para quando crescermos. É até fácil, já que o futuro será construído à base de preparo e dos processos naturais de evolução. E, se mudarmos de plano na jornada, tudo será visto com o beneplácito da variável do processo - estamos construindo os rumos do futuro.
Mas, e quando estamos crescidos? O que fizemos de nossa ventura rumo aos caminhos da construção de nossa identidade (social, pessoal, profissional etc.)? Conseguimos ser o que queríamos? Se houve mudanças de rota, como foi?... Foi simples?... Foi tranquilo? Foi preciso deixar algo essencial de lado, para a ideia do que somos hoje?
São perguntas que reverberam, em um moto contínuo filosófico: O que deixei de ser quando cresci?
Parece angustiante mesmo, porque guarda uma conotação de perda... Perdi algo importante no meu processo de crescimento biológico. Mas a leitura pode ir por outro caminho e a pergunta pode ser outra: Se o que deixei de ser quando cresci é importante para mim agora, é possível recuperá -lo? É possível resgatar esse algo que julgo importante para a continuada do meu crescimento?
Sim, o crescimento é contínuo. E o que quer que você tenha deixado de ser, está repousando em algum limbo, à espera de uma espécie de provocação. O que precisa ser repetido é a questão da importância - o que você deixou de ser é importante (necessário) agora?
Para essa questão, menos angustiante, penso, o esforço é o da capacidade de análise. Analise o seu momento: o que lhe falta é algum atributo que já foi característica sua? Ousadia, valentia, determinação, força de vontade, perspicácia, paciência, criatividade... algumas dessas variáveis podem já ter sido sua marca, sua estampagem. 
A principal referência que me acode nesse pensamento é a do arquétipo da Criança. Penso em algumas características da criança, que são recorrentes na idealização de um caminho de desenvolvimento: determinação, coragem, criatividade... Reflita sobre as variáveis de ser criança e algumas dessas instâncias virão a sua mente: a criança é determinada; a criança é corajosa; a criança é criativa... Ao meu ver, dois pressupostos fundamentais tornam a criança assim: ela gosta de experimentar e não tem medo de errar. Perdemos um pouco disso, à medida em que crescemos - comportamo-nos, na maioria das vezes, balizados pelo julgamento de uma sociedade que nos condena diante das referências de experimentação e da perfeição.
É bem possível que a reflexão sobre o arquétipo da Criança, no resgate de características que tínhamos e hoje nos faltam, possam bem redimensionar a questão do título desta publicação: "Quanto eu posso tornar a ser do que deixei de ser quando cresci?".

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