O poema do Drummond, Receita de Ano Novo, ressoa na minha memória quase como um alerta
para evitar as tradicionais e vãs promessas e determinações para o início de um
novo ano, como é comum nessa época. Pululam, por aí, as mais variadas promessas
e os mais diversos estabelecimentos de metas para cumprimento nesse ano que se
inicia. Mas, como no poema, para viver um novo ano de fato, “... não
precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.”.
Grande parte de nós aproveita o fato
simbólico da mudança de data no calendário para apropriar-nos da falsa
esperança de que basta elencar resoluções, até carregadas de boas intenções, caro
Drummond, para que tudo mude no limiar desse janeiro. Não me tome por
pessimista, mas essas resoluções – ou a maior parte delas – acabam mesmo por
serem arquivadas em alguma gaveta, senão perdidas nas dimensões misteriosas que
nos cercam.
Recentemente, recebi uma mensagem
interessante, de que gostei muito. Em sua medida, a mensagem pedia para que deixássemos
em branco o capítulo 2015... Que não tivéssemos a pretensão de controlar ou
prever e que ofertássemos uma chance ao acaso, na crença de que o futuro nos
trará coisas boas e de que estamos equipados para lidar com as coisas ruins...
Não é mesmo interessante isso?
Para mim, já começou muito bem. Deixar em
branco o capítulo desse novo ano já nos impele a um movimento de atitude que
pode ser muito positiva. O capítulo em branco é uma ideia altamente motivadora
para que aprendamos a construí-lo, a escrevê-lo, fundamentado em nossas
capacidades e aptidões. E escrever esse capítulo vai exigir de nós uma postura
de transformações e de percepção da realidade – seja ela vivida ou a viver –
que, certamente vai nos modificar. Sobretudo, vai modificar a visão que temos
do nosso entorno (físico, social, emocional, intelectual etc). Aliás, e melhor
dizendo, é essencial que mudemos a nossa visão para que saibamos escrevê-lo.
Depois, a referência às coisas boas e ruins
que o futuro nos trará deu-me a medida da vida, exatamente como ela é. Coisas
boas e ruins acontecem o tempo todo, independente de nossa vontade. Estarmos
equipados para lidar com elas vai ser o diferencial do nosso desenvolvimento. Na
vida, não há um fator de conspiração impedindo-nos de sermos felizes ou de alcançarmos
determinado sucesso. Até acreditamos nisso, é verdade, mas não há. A vida é
exatamente como ela é, um emaranhado de fatos e sucessões de acontecimentos que
nos completam os caminhos. Nessa teia, chegam-nos sensações, alegrias,
tristezas, preocupações, dores, conquistas e tudo o mais que nos dá a dimensão
de estarmos vivos. E aí é preciso que estejamos equipados para lidar com todas
essas vicissitudes... e bem equipados, diga-se de passagem. Nossa formação, se
bem encaminhada, revestiu-nos de ferramentas várias: emocionais, intelectuais,
sociais etc. A ideia de equipar-se deve, também, ser um alerta para nós... é
preciso que estejamos equipados. Se eu não estou, preciso estar. É necessário
saber o que me falta para que eu possa saber lidar com as coisas boas e ruins
que me chegarão. A avaliação que tenho de minhas potencialidades e das
referências que me faltam para o meu desenvolvimento será o norte do meu
roteiro de evolução – preciso estar atento ao que sei e ao que não sei para que
eu seja dono de minha própria história. E, com isso, saber, de fato, lidar com
as coisas boas e ruins que a vida colocará em meus caminhos.
Esperança, sonhos, desejos e tudo o mais
que reveste as promessas de um novo ano, vistos por outro ângulo, passam a ter,
então, outro enfoque. O do controle e o da consciência do que somos capazes
para renovar os caminhos... E o de que a história a ser escrita vai ser muito
mais significativa. Como está lá no poema do Drummond, “... é dentro de você
que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”.
Feliz Ano Novo!
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