domingo, 4 de janeiro de 2015

Feliz Ano Novo?

O poema do Drummond, Receita de Ano Novo, ressoa na minha memória quase como um alerta para evitar as tradicionais e vãs promessas e determinações para o início de um novo ano, como é comum nessa época. Pululam, por aí, as mais variadas promessas e os mais diversos estabelecimentos de metas para cumprimento nesse ano que se inicia. Mas, como no poema, para viver um novo ano de fato, “... não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.”.
Grande parte de nós aproveita o fato simbólico da mudança de data no calendário para apropriar-nos da falsa esperança de que basta elencar resoluções, até carregadas de boas intenções, caro Drummond, para que tudo mude no limiar desse janeiro. Não me tome por pessimista, mas essas resoluções – ou a maior parte delas – acabam mesmo por serem arquivadas em alguma gaveta, senão perdidas nas dimensões misteriosas que nos cercam.
Recentemente, recebi uma mensagem interessante, de que gostei muito. Em sua medida, a mensagem pedia para que deixássemos em branco o capítulo 2015... Que não tivéssemos a pretensão de controlar ou prever e que ofertássemos uma chance ao acaso, na crença de que o futuro nos trará coisas boas e de que estamos equipados para lidar com as coisas ruins... Não é mesmo interessante isso?
Para mim, já começou muito bem. Deixar em branco o capítulo desse novo ano já nos impele a um movimento de atitude que pode ser muito positiva. O capítulo em branco é uma ideia altamente motivadora para que aprendamos a construí-lo, a escrevê-lo, fundamentado em nossas capacidades e aptidões. E escrever esse capítulo vai exigir de nós uma postura de transformações e de percepção da realidade – seja ela vivida ou a viver – que, certamente vai nos modificar. Sobretudo, vai modificar a visão que temos do nosso entorno (físico, social, emocional, intelectual etc). Aliás, e melhor dizendo, é essencial que mudemos a nossa visão para que saibamos escrevê-lo.
Depois, a referência às coisas boas e ruins que o futuro nos trará deu-me a medida da vida, exatamente como ela é. Coisas boas e ruins acontecem o tempo todo, independente de nossa vontade. Estarmos equipados para lidar com elas vai ser o diferencial do nosso desenvolvimento. Na vida, não há um fator de conspiração impedindo-nos de sermos felizes ou de alcançarmos determinado sucesso. Até acreditamos nisso, é verdade, mas não há. A vida é exatamente como ela é, um emaranhado de fatos e sucessões de acontecimentos que nos completam os caminhos. Nessa teia, chegam-nos sensações, alegrias, tristezas, preocupações, dores, conquistas e tudo o mais que nos dá a dimensão de estarmos vivos. E aí é preciso que estejamos equipados para lidar com todas essas vicissitudes... e bem equipados, diga-se de passagem. Nossa formação, se bem encaminhada, revestiu-nos de ferramentas várias: emocionais, intelectuais, sociais etc. A ideia de equipar-se deve, também, ser um alerta para nós... é preciso que estejamos equipados. Se eu não estou, preciso estar. É necessário saber o que me falta para que eu possa saber lidar com as coisas boas e ruins que me chegarão. A avaliação que tenho de minhas potencialidades e das referências que me faltam para o meu desenvolvimento será o norte do meu roteiro de evolução – preciso estar atento ao que sei e ao que não sei para que eu seja dono de minha própria história. E, com isso, saber, de fato, lidar com as coisas boas e ruins que a vida colocará em meus caminhos.
Esperança, sonhos, desejos e tudo o mais que reveste as promessas de um novo ano, vistos por outro ângulo, passam a ter, então, outro enfoque. O do controle e o da consciência do que somos capazes para renovar os caminhos... E o de que a história a ser escrita vai ser muito mais significativa. Como está lá no poema do Drummond, “... é dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”.
Feliz Ano Novo!




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