segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Lúdico na Eduação - Brincando de Dobrar Papel

O  universo infantil está pontilhado de referências lúdicas. E não podia ser diferente: é através de sua vivência nos jogos de representação, a que costumeiramente chamamos apenas de brincadeira, que a criança experimenta situações, conflitos e superação de desafios, que vão proporcionar, além do próprio prazer de brincar, o seu pleno desenvolvimento.
É nesse ponto que se apoiam as reflexões que relacionam o lúdico às operações pedagógicas: os sistemas em Educação podem (e devem!) ser analisados a partir do pressuposto do estabelecimento de variáveis que promovam exatamente o desenvolvimento do ser humano.
E é com base nessa relação que a ludicidade, já há algum tempo, deixou de apenas circunscrever seu perímetro de estudo, unicamente, aos aspectos do jogo e do brincar. As leituras dos referenciais lúdicos têm sido acompanhadas, via de regra, de implicações educacionais. É no encaminhamento das reflexões acerca do brincar como variável pedagógica que os educadores, preocupados com dinâmicas mais significativas, vão buscar novos olhares sobre sua prática.
Os educadores que trabalham com as crianças pequenas, de 0 a 6 anos, têm refletido muito sobre a máxima que caracteriza o brincar como atividade em que se pressupõe uma relação propícia ao processo de desenvolvimento integral: sócio-afetivo-intelecto-emocional.
Na prática, é preciso estarmos atentos às possibilidades de redimensionamento das estratégias e dos materiais que temos à mão para o planejamento de atividades que venham contribuir, efetivamente, com essa operacionalização.
Sob essa ótica, as atividades que relacionam o prazer de ouvir histórias com os benefícios da prática de dobrar papel podem ser altamente positivas. Ilustro, aqui, com o que pode ser pensado como um sistema: a partir da escolha de um instrumento prático pertinente a brincadeiras (no caso, o papel e as possibilidades de sua transformação pelo processo de dobrá-lo), desenvolvem-se vertentes de descobertas e/ou retomadas das cantigas infantis e das narrativas orais.
Para explicitar as possibilidades dessa atividade, pensemos em um modelo simples de dobradura, que todos devem conhecer – a casa. É uma figura bastante clássica. Pode-se partir de um estímulo qualquer para motivar o grupo a fazer a dobradura, ressaltando-se o respeito às potencialidades individuais. Com o modelo pronto, começam as brincadeiras.
Lembrando que já existe uma canção muito popular (“Era uma casa muito engraçada...”), o educador pode conduzir a brincadeira inicial justamente para reforçar o que há de engraçado nessa casa – não tem chão, não tem janela etc. -, com a intenção de tornar vivos os versos da música. Se a canção não surgir espontaneamente, nada impede de apresentá-la ao grupo, ensinando-lhe o que diz a letra.
Particularmente, eu gosto de fazer surgir do final da música uma história – como se uma brincadeira puxasse outra. Nesse caso, também valoração pessoal, prefiro a história do livro A Casa Sonolenta, já que o seu enredo permite um dinamismo que agrada muito o público infantil. Finda a história, a brincadeira toma outros rumos, permitindo algumas escolhas: recontar a história, inventar outra história com o tema da casa ou explorar as possibilidades intrínsecas na dobradura da casa: enfeitá-la, usá-la como aplicativo de colagens etc.
Assim como a casa, outras figuras de simples execução podem ser descobertas na prática da dobradura. E o encaminhamento até pode ser o mesmo descrito aqui; dobradura – cantiga – história – exploração após os contos. Evidentemente, o educador que pretender refletir essa prática vai desenvolver o seu próprio método de trabalho, valorizando este ou aquele momento, conforme especificidades de sua turma ou das características de seu espaço educativo.
O que deve ser ressaltado é a utilização de ferramentas, marcadamente lúdicas, para a compreensão do processo pedagógico. A linguagem da brincadeira, algumas vezes pejorativamente identificada com a ausência de seriedade, mostra-se, aqui, uma variável incomensurável de estabelecimento metodológico colaborativo no desenvolvimento da criança.
De um lado, a arte de contar histórias permite-nos adentrar nas reflexões sobre a aplicabilidade dos contos no contexto educativo, ao oferecerem à criança-ouvinte valores psicológicos e afetivos, presentes nas estruturas das narrativas orais clássicas, já amplamente discutidos nos estudos científicos a esse propósito. De outro, atividades de construção – como as transformações feitas em folhas de papel – abrem-nos outros campos de prospecção de estudos acerca dos princípios educativos que vão consolidar nossa prática.
 A referência maior, aqui, da ludicidade acompanhando esse processo de tomada de consciência só aprofunda a importância de compreender o brincar como manancial valoroso de análise do crescimento sócio-afetivo das crianças envolvidas em atividades que o tenham como estratégia.
A integração entre a arte de contar histórias e as dobraduras de papel, fundamento desta explanação, prevê um mecanismo bastante envolvente nos trabalhos positivos que se observam em Educação Infantil: a perfeita sintonia entre brinquedo (o instrumento) e brincadeira (o que se faz com o instrumento), como facilitadores de variáveis contributivas ao desenvolvimento das crianças. Caberá ao educador, em nome dos ideais mais acertados da Educação, além da constante análise de suas potencialidades, o estudo e a adoção de métodos que corroborem essa sintonia.


Esse post é uma síntese do artigo Brincando de Dobrar Papel Entre Cantigas e Contos. Para acessar o artigo na íntegra, clique aqui.

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