segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A questão do analfabetismo social - Parte 2

Volto ao tema do analfabetismo social, que vigora em nossos tempos, responsável pelo afastamento dos vínculos sociais reais. E o que é mais impactante em minha observação é a naturalidade com que o fenômeno ganha dimensão.
Nos dias de hoje, o "isolacionismo" (desculpem-me pela invenção do termo, se ele não existir...) ganha contornos de sofisticação e de estilo. Mas o que está em jogo é a questão do distanciamento das coisas e das pessoas reais. É preciso que se repita: vivemos em sociedade e dela retiramos nossas experiências de convivência, de formação intelectual e de aprimoramento dos traquejos emocionais frente às vicissitudes que devemos enfrentar no processo de evolução pessoal.
Quanto mais nos afastamos dos caminhos reais de convivência, menos nos aprimoramos nas habilidades de que precisaremos para a formação humana ideal.
Os aparatos tecnológicos de que nos valemos, em nome do conforto moderno, acabaram sendo os principais vilões, responsáveis pelo afastamento dos vínculos reais. Mas é bom que se diga que eles não guardam, por si, essa responsabilidade. Os aparelhos tecnológicos são mera ferramentas; o uso que fazemos delas é que estabelecem esse padrão de distanciamento social.
Assim, se eu não sei usar o aparelho de telefone celular, o problema está comigo e não com o equipamento. E cito o telefone celular, pois, em minha opinião, ele acabou sendo a principal ilustração desse viés de analfabetismo, sobre o qual temos que refletir. Os deslumbres e os desvios de condutas acabaram transformando algumas pessoas em distanciadores do mundo real.
Já começa no aspecto visual de quem se entrega aos cliques da maquininha iluminada: a cabeça baixa e o olhar absorto no equipamento. Assim, o mundo real - cheio de experiências e de caminhos de aprendizagens - passa ao largo da compreensão e das sensações.
A utilização de uma ferramenta, seja ela qual for, precisa passar por um viés de consciência, em que o operador entenda que o usufruto dos benefícios daquela ferramenta deve estar atrelado a um conjunto de competências - desenvolvidas ou a serem. A leitura de que o melhor aproveitamento daqueles benefícios será tanto mais elaborado depende de quanto as experiências sociais e emocionais estão mais exercitadas. Quanto mais tenho repertório de convivências (sociais, emocionais, intelectuais etc.), tanto mais estou capacitado ao desenvolvimento das competências que me facultam ao desenvolvimento pessoal.
O analfabetismo social, penso, ainda não é uma tragédia, mas é preciso que estejamos alertas a esses processos silenciosos que privilegiam o afastamento das reais convivências. No plano principal de quem pensa a Educação e o Desenvolvimento Pessoal está a preocupação em que os sujeitos não se distanciem, fisicamente, das relações humanas e sociais.



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