segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A questão do analfabetismo social

Volto ao tema dos analfabetismos que acometem a modernidade. Desta vez, queria discorrer um pouco mais sobre ao analfabetismo social. É questão que considero de relevada reflexão, haja vista que a busca de um caminho de desenvolvimento em que aprendamos a nos relacionar com o outro configura-se um grande desafio. Sobretudo, porque grande parte de nós vive os caminhos dos frágeis relacionamentos digitais.
O relacionamento digital permite-nos uma superficialidade, um descompromisso, que aparenta certa tranquilidade. Viver uma interação social de verdade exige certos pressupostos: melhora da intercomunicação, socialização, disponibilidade, paciência, senso de alteridade, respeito, colaboração... É essa exigência toda que confere aos contatos digitais a aparência de leveza e descompromisso. Relacionar-se de verdade dá trabalho... e muito!
Vivemos tempos em que desconhecemos os aspectos sociais de trocas e/ou de colaboração para o crescimento mútuo e interpessoal. Em alguns casos, a simples possibilidade da necessidade de se relacionar com o outro causa estranheza, senão medo. Conversar com o outro, às vezes em situações corriqueiras como pedir informações, vira um contexto de pavor.
A ideia de desenvolvimento pessoal traz uma referência de coletividade, a partir da qual o contexto social torna-se uma premissa significativa: é necessário estar com o outro; é necessário aprender com o outro; é necessário ensinar o outro. É o pressuposto da convivência. Viver com.
Nesse espaço de troca, há uma facilidade muito grande para o enriquecimento das reflexões. O que pode representar uma maior consistência das aprendizagens. E é quando as aprendizagens são consistentes que podemos falar de um processo de evolução positivo.
Exercitemos, pois, os mecanismos reais de interação social, a partir do estabelecimento de encontros. A ideia de encontrar-se guarda uma relação de sentidos nas trocas. Trocas de informações, trocas de posicionamentos, trocas de conteúdos, trocas de aspectos valorativos a propósito das formações culturais, e por aí vai.
Encontrar-se é o caminho mais natural de estarmos juntos, de verdade. E é preciso tanto que estejamos juntos, criando teias de relacionamentos reais em que todos ganhem algo. Nesse movimento, o propósito de evolução ganha contorno mais significativo.
Se pensarmos que a variável de analfabetismo social é uma questão cultural, resultado da modernidade que nos relegou aos cliques de uma ação mecânica, podemos acreditar que é possível mudar esse panorama. Toda referência cultural deve ser objeto de reflexão constante, para que, se não estiver sendo positiva, possamos buscar alterações de rotas nos caminhos de desenvolvimento. A arte do encontro, como disse o poeta, é uma dessas alterações de rotas no combate do analfabetismo social.

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