segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dia do Saci


Dia do Saci

Hoje, 31 de outubro, é comemorado o Dia do Saci. No estado de São Paulo, em cuja capital resido, a data foi oficializada a partir da Lei nº 11.669, de 13 de janeiro de 2004, com a clara intenção de exaltar o folclore brasileiro, em uma tentativa de oposição à comemoração do Dia das Bruxas, amplamente comemorado na maioria dos países de língua inglesa.
A festividade que homenageia o personagem folclórico tem acontecido em alguns municípios desse Brasil afora. Em São Luiz do Paraitinga, cidade do interior paulista, há uma comemoração fantástica que marca, com renovada participação de um público externo, esta certa resistência em prol do Saci - a Festa do Saci e Seus Amigos, em São Luiz do Paraitinga, está na sua 14ª edição e desenvolve-se em três dias de um banho de cultura e de entretenimento altamente essenciais para quem se preocupa com a evolução da cultura popular e com o respeito às tradições.
Claro que falar em tradição pode suscitar críticas de tratar-se de um pensamento conservador, mas se pensarmos bem veremos que um dos maiores problemas do nosso desenvolvimento cultural é exatamente a falta de uma preocupação com a memória e os valores culturais próprios. Bem sei que a cultura é uma ciência dinâmica e que se fundamenta nas trocas de referências de diversas manifestações, mas essa troca só é positiva quando o conhecimento e a tradição das raízes fundamentam-se de maneira sólida. Senão fica uma cópia destituída de princípios, balizada apenas em aspectos de modismos e de deslumbre. Foi o que aconteceu, na minha modesta opinião, em relação às comemorações do Dia das Bruxas.
Importada mais por modismo, essa comemoração ganhou escolas, clubes e condomínios, sem que ninguém soubesse exatamente o significado de alguns símbolos exaltados. Assim, teias de aranhas, abóboras e fantasias que remetem ao universo de filmes de terror foram, repentinamente, incorporadas ao cotidiano da juventude. Isso sem dizer no incompreensível (aos nossos costumes) mote repetido por crianças nas portas dos vizinhos: "doces ou travessuras".
Do ponto de vista de uma demanda pedagógica, penso que temos em mão uma interessante reflexão que vale a pena fazer, em nome de um trabalho educacional de verdade. Se a ideia é trabalhar conceitos culturais de uma língua estrangeira, a comemoração do Dia das Bruxas vem bem a calhar - escolas estrangeiras ou de idiomas devem valer-se bastante dessa referência. Mas se o caminho é discutir e apresentar referências de uma cultura nacional, o Saci pode dar conta muito bem dessa empreitada.
E olha que o Saci até não é exatamente de origem brasileira. A sua característica, sim, de travessura e de molecagem é que incorporou-se bem ao modelo de formação do nosso povo miscigenado e passou a representar nosso conceito de folclore e de cultura popular. Não à toa os movimentos de resistência cultural adotaram a figura do Saci como de oposição à comemoração das bruxas.
Não considero que seja necessária uma ideia de oposição. Tanto uma cultura quanto outra fundamentam-se em princípios comuns e relacionam-se entre si com elementos de integração. O que penso de maneira mais contundente é que somos responsáveis pelos valores pedagógicos. Se, a partir de um princípio de planejamento e de intenção pedagógica, optarmos pela valorização de uma ou outra manifestação, faz-se altamente necessário que saibamos explicar muito bem aos jovens os fundamentos que sustentam uma ou outra comemoração.
De minha parte, justamente pelos princípios de intenção pedagógica, viva o Saci!

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Anotações - Carroça vazia

Tenho me cansado do barulho que fazem as muitas pessoas que não têm nada a dizer. São pessoas com que venho me deparando nessa caminhada, de quem até esperaria algo. O incrível é que, quase sempre, suas falas são vazias. Mas, além do vazio, há também um barulho ensurdecedor, como quem disfarça a falta de conteúdo.
Penso que essas pessoas são assim mesmo: é preciso fazer muito barulho para chamar a atenção, já que não há outro pressuposto para prender a atenção. Penso, ainda, que, por mais que não me considere um modelo, jamais cogitei ganhar a atenção de alguém pelo grito ou pela imposição de um discurso.
É preciso darmos atenção ao conteúdo que vamos acumulando ao longo de nossa vida, cuidando dos saberes e das práticas que vamos desenvolvendo, para que não nos transformemos em carroças vazias... Conhecem a história? A do menino que ouviu de seu pai, em um dia de passeio, a indagação sobre o que ele escutava quando passaram por um bosque. O menino respondeu que, além dos sons naturais, ele escutava o barulho de uma carroça. O pai confirmou e ainda completou: "É... é uma carroça vazia!". O menino ficou curioso, pois ainda não tinham avistado a tal carroça. "Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?". E é aqui, na resposta do pai, que venho encontrando o alento para suportar esse barulho que fazem as pessoas que não têm nada a dizer... Disse o pai:

"É muito fácil saber que uma carroça está vazia, por causa do barulho.
Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz.".


terça-feira, 25 de outubro de 2016

Anotações - Beppo Varredor

Para quem conhece a bibliografia do autor alemão Michael Ende, responsável pelo maravilhoso A História Sem Fim, certamente conhece um outro livro dele: Momo e o Senhor do Tempo. É uma fábula interessante sobre a ideia do relacionamento adulto/criança, no que diz respeito ao aproveitamento do tempo e da inocência infantil. De vários personagens com que se relaciona, Momo tem uma aprendizagem interessante com um de nome Beppo, que, por ser varredor de ruas, recebe o sobrenome Varredor. Beppo Varredor.
É um sujeito calmo e que vê o seu trabalho com importância e método. Penso sempre nele quando tenho que conduzir o meu trabalho - ao qual, invariavelmente, pareço não ter condições de desenvolvê-lo, seja pelo tempo ou pela grandeza das tarefas. Penso, também, que, independente do tamanho do trabalho, talvez seja importante aprendermos um pouco com o Beppo Varredor.
Lá pelas tantas, Beppo, quando questionado por Momo sobre a dificuldade de sua tarefa, sai-se com um ensinamento muito interessante. Faço questão de transcrever essa passagem do livro para a nossa reflexão:        

“_ Veja só, Momo – certa vez ele disse, por exemplo - , é assim. Às vezes temos à nossa frente uma rua muito comprida. Achamos que ela é terrivelmente comprida e que nunca seremos capazes de chegar até o fim. Ficou algum tempo olhando para longe, com ar distraído, depois continuou:
_ Então começamos a nos apressar . E nos apressamos cada vez mais. Cada vez que levantamos os olhos temos a impressão de que o trabalho que temos pela frente não diminuiu em nada. Nosso esforço aumenta, começamos a sentir medo, acabamos ficando sem fôlego e completamente esgotados. E a rua continua inteirinha na nossa frente, tão comprida quanto antes. Não é assim que se deve fazer.
Pensou um pouco e continuou:
_ Nunca devemos pensar na rua inteira de uma vez, está entendendo? Devemos apenas pensar no passo seguinte, na respiração seguinte, na varrida seguinte, e continuar sempre pensando só naquilo que vem a seguir.
Ele fez outra pausa e refletiu, antes de prosseguir:
_ Fazendo assim, temos prazer. Isso é importante, e o trabalho sai bem-feito. Assim é que deve ser.
Depois de mais uma longa pausa, concluiu:
_ De repente, verificamos que, passo a passo, chegamos ao fim da rua comprida, sem perceber e sem perder o fôlego.
Meneou a cabeça e concluiu, devagar:
_ Isso é muito importante.”

(Extraído de Momo e o Senhor do Tempo, de Michael Ende, Ed. Martins Fontes, 1995, Pp.32-3)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A questão do protagonismo

Referir-se ao ideal de um trabalho que valorize e respalde o protagonismo dos alunos nos espaços pedagógicos tem sido constante nas publicações sobre Educação. É um ideal fantástico: desenvolver atividades e programações que tornem o aluno o centro do processo de aprendizagem tende a ser a busca preciosa dos educadores preocupados com o desenvolvimento dos jovens.
A reflexão ganhou projeção na medida em que se verificam as atitudes positivas dos jovens que tomam o centro dos debates importantes do cotidiano - políticos, sociais, econômicos etc. E têm sido acontecimentos que realmente nos mostram o lugar dos jovens em um importante patamar da evolução dos caminhos. Mas a pergunta é: como transpor esse mundo atual de inquietudes e de necessidade de renovações de ideias com o equívoco do posicionamento das Escolas em relegar os jovens a posições menores, em que se calem suas vozes?
Basta conhecer um pouco dos espaços escolares e perceber que, na maioria dos casos, a arquitetura e o sistema existentes não privilegiam a participação ativa dos alunos. É preciso refletir na necessidade de mudança desse processo.
Pois bem, estive visitando uma Mostra Cultural realizada por uma Escola. A ideia é clássica e não foge ao que estamos acostumados: turmas separadas por classes; um tema norteador dos trabalhos; estandes de exposição do tema; uma apresentação artística temática e por aí vai. E ainda há um ingrediente, a que também estamos acostumados, ao qual não creditamos muita importância, porém: o nível de participação e de responsabilidade dos alunos, nestes momentos, geralmente, transcende, positivamente, nossas expectativas. De uma maneira geral, os alunos, na ocasião, não estão o tempo todo sob a guarda dos professores, mas encaram o momento com uma seriedade relevante.
E é essa a base de reflexão do protagonismo - trabalhar, nos bastidores, os níveis de responsabilidades individuais para que o desenvolvimento coletivo sobressaia, sem que haja necessidade de ingerências de quaisquer naturezas.
E, no protagonismo, acontecem aquelas referências interessantes para o estudo das variáveis de desenvolvimento pessoal: surgem as lideranças; surgem os criativos; surgem os racionais; surgem as análises para os problemas que acontecerem; surgem as alternativas para as dificuldades inevitáveis... E, assim, de surgimento em surgimento, os projetos vão se realizando. Todos, respeitando-se as potencialidades dos grupos.
Acredito na elaboração de uma pedagogia por projetos. Essa, em que se verificam a existência de um mentor (o professor) na condução dos trabalhos e a elaboração científica de um tema dado. Certamente que é um método bastante trabalhoso, sobretudo em razão das variáveis incontroláveis que acontecem no desenvolvimento, mas seria um encaminhamento muito mais positivo e qualitativo do trabalho de um sistema que valorizasse a ideia do protagonismo dos alunos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Anotações - De cabeça baixa

É preciso olhar para os caminhos. É nos caminhos que encontramos os sinais para a descoberta dos rumos. Entretanto, uma rápida olhada para os passantes que cruzam por nós e vemos um crescente de uma geração que anda de cabeça baixa. Ora, são as preocupações das mazelas do cotidiano; ora, é o entretenimento cada vez mais maciço em que se resume a utilização dos aparelhos celulares.
Pode perceber. Aos poucos, a cada dia, vai aumentando o número de pessoas com que você se depara nos mais variados espaços da rua que estão de cabeça baixa manipulando os diversos e fantásticos aplicativos da maquininha luminosa. É música, é rede social, são fotos, é uma checada nos e-mails, nas notícias do dia, uma olhadinha na partida de futebol... e assim vai, distraindo-nos dos caminhos.
Claro que há um pressuposto benéfico na distração - encurtar o caminho distante ou aliviar o trânsito cansativo, por exemplo. Mas penso que a coisa tornou-se um exagero - aquele negócio do mau uso das tecnologias, sabe?
Descontada a questão da segurança, que, para mim, é coisa séria - quanto mais distraído você está, mais suscetível fica às situações de perigo -, a ideia de andar de cabeça baixa, preso a um entretenimento que lhe faz escapar das situações reais do cotidiano, parece algo de outra maneira preocupante. Estamos nos distanciando dos aspectos de humanidade: perceber o outro, interagir com o outro etc.
Ou ainda, há uma espécie de mensagem: ao andar de cabeça baixa, também não quero ser percebido, incomodado mesmo, pelo outro. É até possível imaginar que, nos rumos de nossa evolução, chegaremos ao aspecto curvo, de quem olha apenas para o próprio chão, sem nem saber para onde vai ou o que se descortina nas trilhas.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Anotações - Uma escola diferente

Comemoramos, neste final de semana, o Dia dos Professores, desta categoria desvalorizada e desmerecida de certos prestígios. E, na minha opinião, um dos prestígios está justamente no ideal da existência de uma Escola melhor.
Era preciso que houvesse uma alteração nos sistemas escolares, para que os professores, estes que carregam o sentido da Educação na mais alta monta, pudessem sentir-se mais dignificados em seu trabalho.
Conheço trabalhos valorosos por aí, é emocionante. Mas o que mais me toca é a natureza da dificuldade com que esses professores deparam-se para desenvolver esses valorosos trabalhos. Dificuldades que são impostas quase sempre sem sentido e razão; dificuldades que surgem para fazer, por incrível que pareça, que esses trabalhos valorosos não aconteçam. Mas não. Lá vão aqueles professores, movidos sabe-se lá por que energia, literalmente, tirar leite de pedra: inventam um contorno, descobrem uma alternativa, estabelecem inusitadas parcerias, estimulam alunos fadados ao descrédito, reinventam metodologias (para adaptarem-se às necessidades frequentes do improviso), engolem o choro cotidiano das intempéries e lá se vão em busca de uma escola diferente.
Pois é, a busca de uma Escola melhor está exatamente no reconhecimento desses professores e sua inabalável crença de fazer da Educação a visão de um mundo melhor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Sobre a ideia de urgência

A referência de urgência no processo de realização de algo suscitou-me uma reflexão contida, exatamente, na palavra "urgência", algo como o que precisa ser feito em um espaço de tempo futuro e que exige uma certa pressa. Claro que a palavra em si pode ter várias conotações, mas apeguei-me ao sentido clássico para essa reflexão.
Nesse aspecto, a ideia de urgência está associada a um elemento básico, caro ao propósito da evolução pessoal: o da falta de planejamento. É preciso resolver de maneira urgente aquilo a que faltou uma elaboração melhor de planejamento.
Até sei que muitas pessoas usam a palavra para referir-se ao que precisa ser feito logo, sem demora, mas insisto na ideia de que aquilo sobre o qual estruturou-se as fases de um planejamento bem feito não demanda pressa, já que o tempo de execução do que precisa ser feito está previsto nas rotas do que foi planejado.
Preocupa-me, principalmente nas reflexões sobre o desenvolvimento pessoal, a questão de que é necessário urgência para a realização de algo. A questão pode embutir o viés cultural de que aquele que está em correria, em atividade, pode parecer mais responsável. É por isso que vemos muitas pessoas fazendo questão de parecer aos olhos dos outros esse viés da correria, da pressa, como pressuposto de quem está fazendo algo. Se se corre, ou se está com pressa, pode parecer ser mais ativo.
Aqui, revela-se uma certa confusão. Ser ativo não tem, necessariamente, relação com a ideia de pressa. Não preciso estar correndo, nem esbaforido, para dizer que sou ativo. O que determina o fato de ser ativo é o meu portifólio de produção - seja ela intelectual ou material. E não preciso parecer aos olhos dos outros um sujeito que está em constante pressa para sustentar esse meu portifólio. A cultura nos leva ao equívoco dessa impressão. É só olhar pelas ruas - há um sem número de pessoas correndo para lá e para cá, como quem está perdendo a hora (ou o bonde, sei lá)... E essas pessoas sempre parecem mais importantes.
Mas não é assim que se balizam as importâncias da vida... ou não deveria ser assim! Já que esse aspecto, até por ter atribuído um valor cultural, faz com que algumas pessoas assimilem essa característica da urgência como um viés valorativo de desenvolvimento. E, na contramão, também pelo mesmo motivo, as pessoas calmas e reflexivas são tidas como não produtivas. As importâncias da vida devem ser planilhadas pela capacidade, competência, talento, criatividade e resultados que transformem as realidades.
Assim, se for o seu caso, repense a questão da urgência como fator de sustentação de suas habilidades. Aí, sim, com urgência!

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Anotações - Eu quero ser feliz agora

Não me lembro se já falei por aqui da música Eu quero ser feliz agora, do Oswaldo Montenegro. Se não conhece, dá uma olhada nesse link, acho que vai gostar. Fiquei preocupado, a princípio, pois se já tivesse escrito sobre essa música, seria uma repetição e não cairia bem. Mas, depois, larguei de lado a preocupação - se já tiver falado por aqui desse texto, dessa vez, certamente, não será uma repetição.
Quando escutei a música, o refrão parece que falava diretamente a mim: "quero ser feliz agora!". Ao deter-me na letra, havia tudo de uma mensagem de resistência, que bem vale a reflexão para o tema do desenvolvimento pessoal. É impressionante quando pensamos que, em nossas investidas de formação, sempre há uma fala de descrédito e de desmerecimento de alguém que teima em nos colocar para baixo. "Você tá louco?... Não faz isso!", algo assim, sabe? E aí, se não temos um pouco de estrutura, a tendência é desanimar e ir para o buraco.
É aqui que a letra da música parece provocar uma reação. Na primeira parte, há um trecho bem significativo dessa referência: "Se alguém disser pra você não dançar / Que nessa festa você tá de fora / Que você volte pro rebanho. / Não acredite, grite, sem demora... / Eu quero ser feliz agora...".
E é preciso que seja assim... Não dar muito ouvido a quem quer lhe derrubar; há uma urgência em querer ser feliz, em realizar-se diante dos sonhos e da sua determinação... E é preciso ousar, acreditar, buscar, capacitar-se, empreender! Mais adiante, na música, ainda há uma reafirmação do mantra: "Se joga na primeira ousadia, que tá pra nascer o dia do futuro que te adora / E bota o microfone na lapela, olha pra vida e diz pra ela... / Eu quero ser feliz agora...".
Seja feliz!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Anotações - Parcerias

Uma andorinha só não faz verão. Esse é o ditado que vem me repetindo na mente, nos caminhos de reformulações mentais dos meus projetos e objetivos. E é um ditado que me acorre sempre, pois tenho o péssimo hábito de isolar-me nos momentos de dificuldades.
E refaço, cotidianamente, o exercício que venho aprendendo com os tópicos do empreendedorismo: é preciso estabelecer parcerias. Não é exercício fácil, já que as parcerias não brotam nas esquinas.
Exige algum desprendimento e uma predisponibilidade a toda prova. Quando estamos à busca da evolução profissional e pessoal, temos que estar propensos a dividir com outras pessoas nossas apreensões, habilidades, metas e tempos... e isso torna o caminho mais suave.
O estabelecimento de parcerias, sejam elas pensadas em quais níveis forem, abre possibilidades de redimensionamento dos mais variados fatores com que estejamos envolvidos em nossos rumos de desenvolvimento. No nível mais básico, só o fato de você poder contar com alguém para ouvir seus desafios e tomadas de decisões já representa uma positividade fantástica.
E as parcerias nos remetem a outro exercício imprescindível nas relações. O de doar-se, já que as parcerias sustentam-se em via de mão dupla. Tanto mais eu absorvo dos meus parceiros quanto mais eu me disponibilizo também.
É, uma andorinha só não faz verão!

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Ideias e atitudes

Um dos fatores mais principais nos caminhos do desenvolvimento pessoal é integrar ideias e atitudes em um propósito de evolução. São dois fatores que podem representar ganhos muito positivos.
O plano das ideias está relacionado com a capacidade criativa e de prospecção de soluções para os mais diversos fatores; o encaminhamento de atitudes está embasado nas competências de determinação e de vontade. Pode-se pensar que os dois aspectos fundamentam-se no processo natural de evolução - por um lado, o fator das ideias está implícito nas variáveis de formação intelectual; por outro, o fator das atitudes está acoplado às de formação emocional.
A capacidade criativa de solucionar problemas não pode ser creditada aos elementos de acaso e sorte. Ter ideias está nos planos de formação mental para os processos intelectuais. Quanto mais capacidade de leituras (as mais diversas) possuir o sujeito, tanto mais suas variáveis mentais estarão preparadas para as situações criativas que exigirem os problemas que ele enfrentar.
A pessoa que, no seu processo de formação intelectual, treinou sua mente para as variadas elaborações que a vida exige estará mais suscetível às resoluções necessárias que os rumos da vida pedem. Assim, a capacidade de ter ideias e perspectivas de criatividade para as soluções do dia a dia não é um caminho mágico, privilégio de poucas pessoas que possuam dons especiais para a coisa. A capacidade da ocorrência de soluções para os problemas cotidianos está no preparo com que se formaram os processos mentais para a apreensão das múltiplas leituras que chegam todos os dias - ora, são as aprendizagens corriqueiras dos espaços escolares; ora, são as mensagens dos ambientes familiares; ora, são os estímulos das leituras físicas que fazemos (livros, jornais, revistas etc); ora, são as conversas de que participamos; ora, são as interferências naturais dos ambientes; e assim por diante... Assim, quanto mais estivermos conscientes desses processos mentais que perfazem os caminhos naturais de nossa evolução, tanto mais nos habilitamos à capacidade de produzir elaborações criativas que solucionem aspectos do dia a dia.
A variável da atitude está condicionada aos fatores saudáveis de crescimento emocional. Em nosso desenvolvimento, passamos, também, por uma diversidade de vivências emocionais, com as quais trocamos cargas de realizações - nas alegrias, aprendemos o conceito de bem estar diante das ocorrências; nas tristezas, defrontamo-nos com os elementos de sofrimento e pesar (para ficar só nas duas principais vivências emocionais por que passamos). E é o quanto conseguimos tornar em equilíbrio essas diversidades de vivências emocionais que marcará nosso pressuposto de atitudes diante das necessidades que surgirem. E a questão é essa mesma, de equilíbrio. Se formos sujeitos que experimentaram em demasia a relação de felicidade diante dos pressupostos, ou se formos aqueles que se deprimiram mais no tocante às sensações de tristezas, estaremos nas relações de desacordo frente aos encaminhamentos das atitudes de que precisarmos: ou estaremos com excesso de confiança ou com excesso de descrédito nos caminhos do que precisa ser feito. Saber ter atitude, seja ela qual for, envolve equilíbrio e discernimento diante dos muitos fatores a serem verificados pelas trilhas dos nossos caminhos.
E é só assim que ter a capacidade de criar ideias e postar-se com atitudes diante do que precisa ser feito faz do processo de desenvolvimento pessoal a mesma trilha de formação e de aperfeiçoamento na nossa evolução.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Anotações - Consciência política

Aproveitando a proximidade da realização das eleições municipais, vale a retomada da reflexão sobre a questão da consciência política.
Todos nós sabemos da importância do voto, de o quanto este gesto cívico pode representar fatores de mudanças importantes. Natural, então, supor que as pessoas tomariam cuidados redobrados para escolher melhor seus candidatos. Poderíamos imaginar que grande parte das pessoas saberia pesquisar para escolher, racionalmente, seus candidatos. E jamais veríamos a situação de a pessoa chegar à beira da urna sem ter claro quem é seu candidato.
Mas não é bem esse cenário com que nos confrontamos. A verdade é que ainda não sabemos votar bem, somos impelidos por valores emocionais, de conveniência e partidários, e sequer conhecemos bem a plataforma dos candidatos. Bom, claro que toda essa questão vai ficar para a próxima eleição. Agora, já é conhecido o resultado e, salvo nas cidades em que ocorre o segundo turno, tudo já está muito bem definido.
Mas a ideia de conscientização política não está perdida. Independente de quem quer em quem tenhamos votado, nosso papel, agora, é o de vigilância suprapartidária: é preciso acompanhar os movimentos dos agentes políticos de nossa cidade e conhecer os canais de posicionamento devidos... É preciso tomar pé dos problemas emergenciais da cidade para bem fundamentar os tais posicionamentos... É preciso fiscalizar as ações dos vereadores... É preciso acompanhar as notícias que refletem os cotidianos dos problemas das cidades... É preciso adotar uma postura de pensamento crítico positivo frente a esses problemas...
Nossa ação deve ser constante e proativa, sem prender-se às superficialidades dos embates individualistas, que nada acrescem ao pensamento de defesa de um bem comum. E a cidade, esse bem comum, é o espaço em que vivemos, em que consolidamos nosso processo de desenvolvimento pessoal. 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Anotações - Encontros digitais

A amiga encontrou a outra no ônibus. Cumprimentaram-se rapidamente. Depois, uma falou: "Te mandei um WhatsApp, viu? Depois, você responde...". E aí, separaram-se, foi cada uma para o seu lado.
Fiquei pensando na superficialidade das relações. Ou melhor, na dificuldade dos encontros presenciais, em que as pessoas possam dizer uma para a outra de forma mais direta o que quiser da comunicação necessária para os dias. Ora, se as duas estavam juntas no mesmo espaço, porque não podiam responder uma para a outra ali mesmo, sem a necessidade do recurso digital?
Parece que nos encontros digitais ficam mais fáceis os relacionamentos, descontada a tensão de os olhos se olharem.
Penso que as pessoas atribuem uma dimensão excessiva aos valores da tecnologia... Claro que a tecnologia ajuda... e bastante! Mas a tecnologia não pode substituir um encontro presencial, em que o dito fica mais legítimo e autêntico, sendo passível até de retomadas de rumo e de colocação.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A vida que nos escapa

Se não tomamos cuidado, a vida pode nos escapar, inflexível, pela ponta dos dedos... Dia desses, resolvi mudar o caminho para exercitar as percepções - somos assim: fazemos o mesmo caminho para acomodar-nos nas margens de segurança. Acontece que a perspectiva de mudança de caminho, com o pretexto de aguçar sentidos e visão, revelou-se uma boa lição para mim. Escolhi o melhor ônibus; escolhi um lugar em pé mesmo (ainda que houvesse bancos disponíveis), encostado a uma daquelas janelas panorâmicas. Tudo com a boa vontade e a expectativa de olhar a paisagem e sorver novas imagens. Minha intenção era tirar nuvens cinzentas da minha cabeça, em virtude do cansaço dos dias; ao olhar novas paragens, pensei que a contemplação estética do que minha vista alcançasse trouxesse-me alento e encanto.
Quando dei por mim, estava de cabeça baixa, teclando na tela do celular, atualizando-me das notícias importantes e checando contatos e mensagens valiosas... E a vida ia se desvanecendo na automatização dos comportamentos. De repente, a janela panorâmica não me era nenhum atrativo... E as paisagens que o dia bonito me trazia sequer adentrava-me os sentidos... Imediatamente, tomei um sobressalto. E só então dei-me conta de que as mensagens não eram tão valiosas assim, nem tampouco as notícias eram importantes. Era preciso recuperar a vida que me escapava.
Ainda bem que somos feitos da matéria que pode arrepender-se e voltar atrás. Precisava mudar de atitude. Guardei, envergonhado, o aparelho celular, convicto de que não podia perder mais da vida... Modificada a atitude, fui, aí sim, aproveitar minha intenção original: observar a vida que vivia lá fora, no convite ao prazer de aguçar os sentidos. Pudessem todas as pessoas fazerem isso de vez em quando.
O aproveitar da vida que quase me escapou trouxe-me a percepção de o quanto desperdiçamos a essência do que nos é caro. Olhei pela janela, assim, com redobrado interesse e o mais dos ínfimos detalhes parecia saltar em dimensões muito maiores. Foi compensador.
Precisei perder um pouco da vida para ganhar uma melhor compreensão do viver!