quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Anotações - De cabeça baixa

É preciso olhar para os caminhos. É nos caminhos que encontramos os sinais para a descoberta dos rumos. Entretanto, uma rápida olhada para os passantes que cruzam por nós e vemos um crescente de uma geração que anda de cabeça baixa. Ora, são as preocupações das mazelas do cotidiano; ora, é o entretenimento cada vez mais maciço em que se resume a utilização dos aparelhos celulares.
Pode perceber. Aos poucos, a cada dia, vai aumentando o número de pessoas com que você se depara nos mais variados espaços da rua que estão de cabeça baixa manipulando os diversos e fantásticos aplicativos da maquininha luminosa. É música, é rede social, são fotos, é uma checada nos e-mails, nas notícias do dia, uma olhadinha na partida de futebol... e assim vai, distraindo-nos dos caminhos.
Claro que há um pressuposto benéfico na distração - encurtar o caminho distante ou aliviar o trânsito cansativo, por exemplo. Mas penso que a coisa tornou-se um exagero - aquele negócio do mau uso das tecnologias, sabe?
Descontada a questão da segurança, que, para mim, é coisa séria - quanto mais distraído você está, mais suscetível fica às situações de perigo -, a ideia de andar de cabeça baixa, preso a um entretenimento que lhe faz escapar das situações reais do cotidiano, parece algo de outra maneira preocupante. Estamos nos distanciando dos aspectos de humanidade: perceber o outro, interagir com o outro etc.
Ou ainda, há uma espécie de mensagem: ao andar de cabeça baixa, também não quero ser percebido, incomodado mesmo, pelo outro. É até possível imaginar que, nos rumos de nossa evolução, chegaremos ao aspecto curvo, de quem olha apenas para o próprio chão, sem nem saber para onde vai ou o que se descortina nas trilhas.

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