terça-feira, 25 de outubro de 2016

Anotações - Beppo Varredor

Para quem conhece a bibliografia do autor alemão Michael Ende, responsável pelo maravilhoso A História Sem Fim, certamente conhece um outro livro dele: Momo e o Senhor do Tempo. É uma fábula interessante sobre a ideia do relacionamento adulto/criança, no que diz respeito ao aproveitamento do tempo e da inocência infantil. De vários personagens com que se relaciona, Momo tem uma aprendizagem interessante com um de nome Beppo, que, por ser varredor de ruas, recebe o sobrenome Varredor. Beppo Varredor.
É um sujeito calmo e que vê o seu trabalho com importância e método. Penso sempre nele quando tenho que conduzir o meu trabalho - ao qual, invariavelmente, pareço não ter condições de desenvolvê-lo, seja pelo tempo ou pela grandeza das tarefas. Penso, também, que, independente do tamanho do trabalho, talvez seja importante aprendermos um pouco com o Beppo Varredor.
Lá pelas tantas, Beppo, quando questionado por Momo sobre a dificuldade de sua tarefa, sai-se com um ensinamento muito interessante. Faço questão de transcrever essa passagem do livro para a nossa reflexão:        

“_ Veja só, Momo – certa vez ele disse, por exemplo - , é assim. Às vezes temos à nossa frente uma rua muito comprida. Achamos que ela é terrivelmente comprida e que nunca seremos capazes de chegar até o fim. Ficou algum tempo olhando para longe, com ar distraído, depois continuou:
_ Então começamos a nos apressar . E nos apressamos cada vez mais. Cada vez que levantamos os olhos temos a impressão de que o trabalho que temos pela frente não diminuiu em nada. Nosso esforço aumenta, começamos a sentir medo, acabamos ficando sem fôlego e completamente esgotados. E a rua continua inteirinha na nossa frente, tão comprida quanto antes. Não é assim que se deve fazer.
Pensou um pouco e continuou:
_ Nunca devemos pensar na rua inteira de uma vez, está entendendo? Devemos apenas pensar no passo seguinte, na respiração seguinte, na varrida seguinte, e continuar sempre pensando só naquilo que vem a seguir.
Ele fez outra pausa e refletiu, antes de prosseguir:
_ Fazendo assim, temos prazer. Isso é importante, e o trabalho sai bem-feito. Assim é que deve ser.
Depois de mais uma longa pausa, concluiu:
_ De repente, verificamos que, passo a passo, chegamos ao fim da rua comprida, sem perceber e sem perder o fôlego.
Meneou a cabeça e concluiu, devagar:
_ Isso é muito importante.”

(Extraído de Momo e o Senhor do Tempo, de Michael Ende, Ed. Martins Fontes, 1995, Pp.32-3)

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