terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Anotações - Cheios e vazios

Pensei no menino do Manoel de Barros, o que gostava de carregar água em peneira, e em sua predileção pelos vazios ao invés dos cheios. A história está no poema O menino que carregava água na peneira. É um poema bem bonito - na verdade, eu gosto muito dele principalmente pela reação da mãe ao ver os despropósitos do filho: 


(...) A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos.

O menino do poema está repleto de despropósitos, além de carregar água na peneira e do seu gosto pelos vazios. E na construção de suas imagens despropositais é que é possível enxergar o que há de bonito nesse descaminho todo. Ora, o vazio é maior que o cheio - até porque lá cabem todos os sonhos do mundo (só para dialogar com outro poeta de ponta...). É no vazio que eu posso depositar meus desejos, aqueles que vão transformar meus rumos e caminhos. Não faz sentido gostar mesmo do cheio, do que não cabe mais nada.
Penso que o menino do poeta tem muito a nos ensinar. Vou buscar, também, caminhar meus caminhos criando alguns despropósitos, com a intenção de buscar intensidades para os meus vazios.

Para a Professora Maria Helena




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