Como é difícil falar da morte. Não por causa da morte em si, já que é a única certeza que temos, mas em virtude da cultura negativa que criamos em relação ao fato. A ideia de morte está comumente associada ao final, ao término e a outras imagens que associamos a elementos pouco ou nada benquistos. Entretanto, nos caminhos do desenvolvimento pessoal, é comum morrermos e renascermos a cada virada de caminho.
Então, poderíamos olhar para a referência de morte com outros olhos e outras reflexões. Na verdade, pensei nesse tema por outras razões. Duas, para ser exato: a primeira, veio-me de uma tirinha do Snoopy que corre as redes sociais - nela, Charlie Brown comenta com o cãozinho: "Um dia, nós vamos morrer, Snoopy.", ao que ele responde: "Sim, mas todos os outros dias nós vamos viver...". Não sei se a tirinha é autêntica, mas a mensagem é muito interessante.
A segunda razão veio-me por caminhos menos confortáveis. Uma amiga, de quem gosto muito, perdeu o seu pai nesta semana. E, por ironia dos caminhos, ela faz aniversário justamente hoje... A celebração da vida em consonância ao momento de morte... Considerei, então, que poderia arriscar-me a deixar um texto-homenagem a ela. Vamos ver.
A suposta mensagem do cãozinho Snoopy acorda-nos para ideia de que a vida é muito maior que a morte ("... todos os outros dias, nós vamos viver..."). É o que fazemos com esses outros dias que importa, que interessa. Toda a significação que direcionarmos a esses outros dias é que vai constituir a memória da vida. E é dessa memória da vida que constitui a nossa história pessoal. Somos o que vivemos, deixamos o que vivemos, somos lembrados pelo que vivemos. Quanto mais relevante a vida, melhores a história pessoal e a lembrança que deixamos pelos caminhos. Nesse sentido, a morte não é o fim, já que a morte não representa o fim da Vida (assim mesmo, com "V" maiúsculo...).
Queria dizer para minha amiga - mas não precisa - de o quanto significativos foram os momentos vivenciados com o seu pai. E que dessa vivência é que foram moldadas as suas características de ser e de acreditar no mundo. E que a evolução é assim mesmo: vamos deixando registros caídos pelos caminhos (a morte) para construções de novos rumos pelas paragens (a vida!).
(Para Isa Ferrari, com todo o respeito!)
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