Amanhã, 31 de outubro, é comemorado o Dia do Saci. No estado de São Paulo, em cuja capital resido, a data foi oficializada a partir da Lei nº 11.669, de 13 de janeiro de 2004, com a clara intenção de exaltar o folclore brasileiro, em uma tentativa de oposição à comemoração do Dia das Bruxas, amplamente comemorado na maioria dos países de língua inglesa.
A festividade que homenageia o personagem folclórico tem acontecido em alguns municípios desse Brasil afora. Em São Luiz do Paraitinga, cidade do interior paulista, há uma comemoração fantástica que marca, com renovada participação de um público externo, esta certa resistência em prol do Saci - a Festa do Saci e Seus Amigos, em São Luiz do Paraitinga, está na sua 15ª edição e desenvolve-se em três dias de um banho de cultura e de entretenimento altamente essenciais para quem se preocupa com a evolução da cultura popular e com o respeito às tradições.
Claro que falar em tradição pode suscitar críticas de tratar-se de um pensamento conservador, mas se pensarmos bem veremos que um dos maiores problemas do nosso desenvolvimento cultural é exatamente a falta de uma preocupação com a memória e os valores culturais próprios. Bem sei que a cultura é uma ciência dinâmica e que se fundamenta nas trocas de referências de diversas manifestações, mas essa troca só é positiva quando o conhecimento e a tradição das raízes fundamentam-se de maneira sólida. Senão fica uma cópia destituída de princípios, balizada apenas em aspectos de modismos e de deslumbre. Foi o que aconteceu, na minha modesta opinião, em relação às comemorações do Dia das Bruxas.
Importada mais por modismo, essa comemoração ganhou escolas, clubes e condomínios, sem que ninguém soubesse exatamente o significado de alguns símbolos exaltados. Assim, teias de aranhas, abóboras e fantasias que remetem ao universo de filmes de terror foram, repentinamente, incorporadas ao cotidiano da juventude. Isso sem dizer no incompreensível (aos nossos costumes) mote repetido por crianças nas portas dos vizinhos: "doces ou travessuras".
Do ponto de vista de uma demanda pedagógica, penso que temos em mão uma interessante reflexão que vale a pena fazer, em nome de um trabalho educacional de verdade. Se a ideia é trabalhar conceitos culturais de uma língua estrangeira, a comemoração do Dia das Bruxas vem bem a calhar - escolas estrangeiras ou de idiomas devem valer-se bastante dessa referência. Mas se o caminho é discutir e apresentar referências de uma cultura nacional, o Saci pode dar conta muito bem dessa empreitada.
E olha que o Saci até não é exatamente de origem brasileira. A sua característica, sim, de travessura e de molecagem é que incorporou-se bem ao modelo de formação do nosso povo miscigenado e passou a representar nosso conceito de folclore e de cultura popular. Não à toa os movimentos de resistência cultural adotaram a figura do Saci como de oposição à comemoração das bruxas.
Não considero que seja necessária uma ideia de oposição. Tanto uma cultura quanto outra fundamentam-se em princípios comuns e relacionam-se entre si com elementos de integração. O que penso de maneira mais contundente é que somos responsáveis pelos valores pedagógicos. Se, a partir de um princípio de planejamento e de intenção pedagógica, optarmos pela valorização de uma ou outra manifestação, faz-se altamente necessário que saibamos explicar muito bem aos jovens os fundamentos que sustentam uma ou outra comemoração.
De minha parte, justamente pelos princípios de intenção pedagógica, viva o Saci!
(Obs.: O texto acima, guardadas pequenas observações de atualização cronológica, é o mesmo publicado no ano passado, em mesmo período. Sei que pode parecer falta de originalidade, mas explico a repetição pela urgência do tema e pela necessidade de mantermos vivas a preocupação e a ideia de trazer à tona esta reflexão tão fundamental.)
(Obs.: O texto acima, guardadas pequenas observações de atualização cronológica, é o mesmo publicado no ano passado, em mesmo período. Sei que pode parecer falta de originalidade, mas explico a repetição pela urgência do tema e pela necessidade de mantermos vivas a preocupação e a ideia de trazer à tona esta reflexão tão fundamental.)
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