segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Repertório pessoal e cultural

Pensei na imagem de uma jornada como metáfora para o desenvolvimento; fico pensando na ideia de uma bagagem, com suprimentos necessários, que se levaria nesta caminhada. A bagagem é a ilustração ideal para o conceito de repertório, que aparece no título desta apresentação.
Somos sujeitos que estamos sendo formados, ao longo de nossa existência.  A cada etapa da evolução, recebemos uma espécie de estampagem, que nos constitui como indivíduos. Essa constituição marca-nos, indelevelmente, aos olhos dos outros. Somos o que somos. Possuímos características específicas; leituras de mundo conforme nossas observações do mundo; comportamentos particulares; disponibilidades tais... e assim por diante, em uma complexa estrutura humana.
Esse, o conceito de repertório, aquilo que nos constitui. É um jeito de falar, de ouvir, de expressar-se, de portar-se. E somos reconhecidos por isso. Devemos respeitar essa característica... e fazer com que sejamos respeitados, também.
Nossas formações pessoal e cultural são balizadas nas aquisições e elaborações desse repertório. Aqui, abrem-se algumas linhas de pensamento.
O processo de aquisição e de elaboração de um conhecimento qualquer não se configura no plano abstrato. Há um movimento racional do sujeito, que se deve colocar, ativamente, no trilhar daquele caminho. O comportamento deve ser o de atenção constante, pois só se adquire algo em estado de despertar, de percepção. O estado de percepção consolida-se na capacidade e competência de captar sinais que a vida nos aponta, na fundamentação do que queremos realizar. Que é o que nos dá subsídios para a escolha dos melhores caminhos. Se eu não estou atento ao meu redor para captar melhor os sinais que aquele caminho me traz, eu não consigo escolher melhor os rumos que quero dar. Lembra-se da história da Alice, repetida aqui outras vezes, que, ao perder-se no País das Maravilhas, encontra o Gato? A Alice, pobrezinha, toda atrapalhada, pergunta ao Gato qual caminho tomar, ao que recebe o questionamento: “Onde você quer chegar?”. “Não sei ao certo”, diz a menina. “Se você não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve”, diz o Gato, entre sorrisos.
A ideia de aquisição e de elaboração não é automática. Entre o momento de aquisição e o de elaboração há todo um esforço a ser feito. Quando adquirimos um conhecimento qualquer, há todo um processamento de dados e de leituras, realizado em função de nossas vivências e de nossas experiências. É a saída desse processamento que se configura, de fato, o que elaboramos a propósito do nosso conhecimento. Desnecessário dizer que, se não prestarmos atenção (de novo!) nas nossas leituras, nas nossas vivências e nas nossas experiências, não teremos qualidade nesse fundamento de elaboração. As vivências e as experiências são, também, o que nos constituem.
Quando passamos pela vida, em nossa escala de evolução, vamos acumulando as mais diversas vivências e experiências. Familiares, sociais, acadêmicas, profissionais, culturais e por aí vai. Quase todas, carregadas de conhecimento; algumas delas, de precioso conhecimento. O nosso comportamento de atenção a esse processo e a competência (a ser exercitada) de assimilação do quanto nos chega é que vão determinar o quanto de positivas são essas vivências, fundamentais para todas as relações de leituras de mundo que nos vão ser úteis.
E aí, sim, constituído o nosso repertório pessoal e cultural, a jornada pode descortinar-se mais interessante e repleta de possibilidades de transformação... que, afinal, é o que todos queremos!

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