A característica do encantamento, frente às vicissitudes da vida, está mais para a capacidade de resistir aos destemperos da vida do que ao que se imagina estar vivendo à margem das realidades, como quem foge do que é inevitável.
Explico melhor. É comum, quando os assuntos descampam para os intangíveis, as pessoas nos olharem com olhos de quem desconfia estarmos alheios aos que os viventes têm como experiência: a realidade da vida. Pensam que, com o nosso observar para as poesias das agruras da vida, estamos nos distanciando do que é palpável.
E a vida é tão real... E tão dinâmica. Ao mesmo passo em que ela se configura como algo concreto e ríspido, a vida também nos mostra lúdica e carregada de fantasia. É preciso saber olhar para não perder a capacidade de encantar-se.
E a questão do encantamento carrega, em si, um pouco de ciência. Já começa que o homem (nós) é o único animal que consegue encantar-se e desencantar-se com os caminhos, sejam eles quais forem. Basta que saibamos o que se passa na nossa mente, se estamos fortalecidos emocionalmente e essas coisas assim, para que entendamos os passos do (des)encantamento. É por isso que reagimos diametralmente oposto às pequenas manifestações do viver.
Tomemos um dia de chuva, por exemplo. Se estamos bem com as nossas emoções, a chuva é um registro de bemquerença... faz-nos bem! Se, ao invés, estamos sofrendo com os descaminhos da mente, não toleramos a mesma chuva. Somos assim.
E, se somos assim, basta trazermos à consciência os processos de desenvolvimento por que passamos para entendermos melhor a ideia dos destemperos da vida... Veja que a vida, essa instituição real, dinâmica e intensa, vai nos proporcionar as mais diversas experiências; nem sempre vai ser tudo azul... nem sempre vai ser tudo vermelho. E, às vezes, nem dá para traduzir em cores as trilhas que enfrentamos no processo de evolução.
São esses os destemperos. Quando eu não consigo traduzir em nuances que me definam os ditames, há uma ideia de perplexidade ao que não se pode definir... um destempero, por assim dizer.
E resistir a essa variável de indefinição está na capacidade de sabermos nos encantar diante daquilo com que não contávamos.
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