segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Não saber - uma conversa sobre a identidade docente

Escrevo essa conversa para os amigos educadores, mas penso que vale para outros profissionais, também.
Já passou pela situação em que se viu sem saber responder a uma questão qualquer, das mais simples às mais escabrosas? Pois é, é fato comum - ou deveria ser. Não somos obrigados a saber tudo.
Alguns educadores, por causa da identidade docente (a que lhe ensinou que é preciso saber tudo), acabam cometendo deslizes nessa hora. Quando indagados sobre algo de que não fazem a mínima ideia, recolhem alguma palavra do contexto - ou uma imagem simbólica do que está sendo dito - e respondem qualquer coisa... Sem a mínima responsabilidade do que está fazendo. Um "chute", por assim dizer. 
A identidade docente, objeto de estudos sérios sobre a formação do professor, já esclareceu esse ponto. O educador tem por essência profissional o ato de ensinar; alguns educadores entendem que, para assumir essa essência, não podem passar uma imagem de quem não tem respostas para tudo. E aí desenvolvem estratégias - nem sempre responsáveis - de terem respostas a qualquer questionamento. Tascam comentários sobre quaisquer temas; dão soluções inimagináveis; apontam respostas diretas e pretensamente dadas como certas.
E, vejam, não há problemas nenhum em não saber. Aliás, é exatamente do "não saber" que chegamos aos caminhos da busca do saber (assim mesmo, filosoficamente...). Grandes pensadores e cientistas partiram, exatamente, do que não sabiam para chegar a soluções hoje dadas como essenciais. É o pressuposto do que não sabemos que deveria ser o motor da curiosidade e da busca das respostas...
O problema é que grande parte de nós deixa de alimentar essa característica de curiosidade e de determinação da busca pelas respostas. Para alguns profissionais, ainda que o problema seja o mesmo, o alcance da prática não é lá, digamos, muito nefasto. Mas para os educadores há aí um grande problema.
Os educadores trabalham com a matéria humana, no objetivo de proporcionar seu desenvolvimento. Ao posicionarem-se como alguém que não precisa procurar saber (já que tem a ideia de sabe tudo), espelham sua característica nos alunos que lhes circundam. E criam um círculo nada virtuoso de que a busca do saber não é tão importante assim.
E essa é a variante imposta pela referência da identidade docente. Fazer-se ver como alguém que não pode enfraquecer-se diante do estigma da dita ignorância...
Desculpem-me, grande bobagem essa, a da dita ignorância. Já começamos em que não há área do saber nenhuma que garanta a existência de uma personalidade que possa se garantir como supra-sumo do conhecimento extenso... É preciso perceber que se pode, repito, declarar, sem a mínima preocupação, não saber algo.
Quando tudo o mais parecer turvo, em relação aos caminhos do saber, havemos de pensar que a construção do conhecimento dá-se, integralmente, na relação do que desconhecemos... Do que desconhecemos e fazemos de tudo para procurar conhecermos!


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