segunda-feira, 8 de junho de 2015

A Arte de Pensar

Ainda não tomamos completa consciência da importância dos nossos pensamentos. Como o ato de pensar, assim como respirar, não exige maiores esforços conscientes, não damos muita importância a essas variáveis. Mas é aí que reside um desperdício muito grande: não acompanhamos nossos pensamentos como ferramenta de aprendizagem e/ou de construção de conhecimento.
Rubem Alves, saudoso e eminente filósofo que tanto contribuiu para um pensamento mais aberto sobre a Educação, mostra-nos, em uma de suas crônicas, que as escolas deveriam preparar-se mais para o ensino das perguntas do que das respostas. O ensino das perguntas eleva o mecanismo da consciência dos pensamentos, o que interfere, positivamente, nas aprendizagens.
O pressuposto de entender a arte de pensar como uma das variáveis mais significativas dos processos de aprendizagens, além do exercício filosófico da razão, é a possibilidade de fazer com que as pessoas se vejam como autores de seus pensamentos. Há uma frase, atribuída ao filósofo grego Aristóteles, de que eu gosto muito: "Presta atenção. Não nas minhas palavras, mas nos torvelinhos que alevantam em ti, enquanto me escutas...". Prestou atenção? É preciso estar atento a este emaranhado de elucubrações que saem de seus pensamentos, enquanto está escutando/vendo algo ou assistindo a algo.
O seu cérebro é uma perfeita máquina de elaboração, ao mesmo passo em que está imerso em algum estímulo externo ou interno. Como não exercitamos a variável de entender o pensamento como elemento de aprendizagem, na maioria das vezes desperdiçamos esta capacidade de elaboração. O que a frase acima nos incita é à visão de perceber esta elaboração. O que estamos pensando enquanto conversamos com alguém; ou quando lemos um livro; ou quando assistimos a um filme; ou quando estamos admirando o céu bonito; ou quando estamos vendo o movimento da vida à nossa frente... e assim vai. A cada estímulo que recebemos, nossos pensamentos elaboram algo. Como há um dinamismo bem grande de estímulos - ainda que estejamos focados em algo definido! -, os nossos pensamentos tornam-se ondas revoltas de elaborações (daí, o "torvelinho" a que se referiu o filósofo). A ideia de estarmos atentos a estes torvelinhos convida-nos ao papel de autores das nossas reflexões.
Ser autor de nossas reflexões é o que nos faz ter opiniões, sem precisar, como disse Rubem Alves naquela crônica, "papaguear os pensamentos dos outros". Para isso, e é aqui que entra a Escola, é preciso que estejamos preparados para a pedagogia da pergunta, ao invés de sermos preparados só para a resposta. "As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.", ensina-nos o saudoso filósofo.
E é justamente quando nos permitimos entrar pelo mar desconhecido que nossa aventura do desenvolvimento e da formação ganha contornos de elaboração.
Preste atenção em seus pensamentos!

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