terça-feira, 2 de junho de 2015

Anotações - Por uma rede social de verdade

Já há algum tempo, vivemos a época em que, a partir do fenômeno das redes sociais digitais, é possível ter, como na canção antiga, "um milhão de amigos". O problema é que essa popularidade toda demonstra, a todo o instante, um contraponto à fragilidade das relações verdadeiras. Mal conhecemos ou mal nos relacionamos com a maioria desses amigos todos, cujos números ostentamos como um status precioso.
As relações digitais redundaram em um processo absurdo de descaracterização da humanidade, em que nos enganamos a partir dos verdadeiros conceitos sociais e suas principais extensões: falar, ouvir, perceber o outro. Desaprendemos a conversar, pois é mais fácil teclar; desaprendemos a ouvir, pois eu não vejo o outro; desaprendemos a perceber, pois é mais fácil fingir que eu me relaciono com o outro. E de desaprender a desaprender, uma principal e preocupante consequência é, justamente, a de perder de vista as referências de humanidade.
A instituição das redes sociais digitais não é algo ruim. Há uma variável de aproximar quem está distante (distante mesmo!), de reencontrar amigos e parentes esquecidos, de facilitar pesquisas e aprendizagens, de melhorar as percepções do mundo em que estamos inseridos e por aí vai. Como sempre, o problema não é da ferramenta, mas sim do uso que fazemos dela. E a questão, aqui nessa reflexão, é o retorno aos tempos de se ter amigos de verdade.
Claro que ter amigos de verdade dá muito trabalho - não é só "adicionar", "curtir" ou "dar uns cliques". É preciso cuidar; é preciso respeitar; é preciso mostrar interesses; é preciso encontrar-se; é preciso compartilhar (de verdade) momentos bons e ruins, em uma cumplicidade de sentimentos; é preciso saber ouvir; é preciso saber falar; é preciso saber silenciar... Uma rede social de verdade exige muito de nós, mas representará uma consistência sólida e indissolúvel na caracterização de relacionamentos mais humanos e eternos.

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