segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Descompasso

Em conversa entusiasmada com meu irmão dia desses, na qual ele cunhou o termo "para-Educação" - aquilo que está ao largo da Educação... -, que, aliás, gostei muito, ele contou-me um caso de pai chamado na Escola para discutir uma inadequação do filho. Corriqueiro isso, eu sei, mas meu irmão saiu-se com essa, que ficou pairando sobre meus pensamentos: "Deve ser difícil para o professor dos tempos de hoje enfrentar as crianças do século 21, com os aparatos do século 19...".
Terrível descompasso paira sobre os espaços pedagógicos. Crianças e situações - sociais, econômicas, políticas, tecnológicas etc - avançaram, obviamente, no avanço dos tempos (século 21) e as escolas ainda se valem de ferramentas desgastadas com o tempo (carteiras com disposições rígidas, normas e apetrechos desatualizados, arquiteturas descabidas aos tempos modernos, falta de identidade com os aparatos tecnológicos e por aí vai).
Meu irmão, ainda, fez uma análise rápida sobre um dos dísticos fantásticos deste descompasso: "A Educação pressupõe que as crianças tenham a mente aberta, mas oferece um espaço fechado de posturas e percepções...". Bom, foi mais ou menos isso que ele falou (ele o disse com mais propriedade, eu quis dramatizar...). A verdade é que ao pressupor um espaço de mentes abertas, os espaços pedagógicos precisariam estar antenados com a perspectiva de oferecer um manancial, digamos mais libertário de atuação. Sei que a simples menção da palavra "libertário" possa causar um certo incômodo, já que associamos a ideia de liberdade à de bagunça. Entretanto, precisamos criar um espaço em que a liberdade de pensamentos promova uma liberdade de atuação, em um espaço livre para que o protagonismo e a criatividade resultem em variáveis de transformação.
De saída, conceitos como "liberdade de pensamentos", "liberdade de atuação", "protagonismo", "criatividade" e "transformação" remontam a percepções de descontrole. Mas não é  e não precisa ser assim. Na verdade, ficamos com medo de perder os controles, porque somos, em grande parte, de uma geração que foi tolhida, exatamente, dessas variáveis. E é mais fácil, para nós, ficar na malfadada zona de conforto, em que não perdemos a referência do que é tranquilo... ledo engano de visão!
Não há tranquilidade no que não é significativo.
Além do mais, a ideia de liberdade - seja ela de pensamentos, de atuação ou de qualquer outra referência - exige de nós uma alta responsabilidade. E é exatamente a reflexão e a análise dessa responsabilidade, com todas as suas nuances (formação, posicionamento, alteridade, desenvolvimento de habilidade de negociação, revisão de conceitos etc), que devem permear os trabalhos pedagógicos, no desenvolvimento de um sujeito pleno e consciente de seus deveres e direitos. Na extensão, a variável de protagonismo pressupõe exatamente a consciência dessa responsabilidade, para que dali possamos ser sujeitos positivos de nossa representação - social, profissional, política, cultural etc.
A criatividade e a transformação são temas desses novos tempos. De nós, são exigidas características que provoquem transformações nos modelos vigentes, visando benefícios e conquistas coletivas. A criatividade será o referente direto dessa exigência.
As atuações pedagógicas, se querem buscar elementos de qualidade e de proatividade, precisam municiar-se das ferramentas modernas para alcançar os sujeitos dessa modernidade.

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