segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

O analfabetismo motor

Vivemos a era em que é necessário criar motivações as mais diversas para os nossos movimentos. Preferimos ficar sentados... se for no sofá, diante de um programa de televisão que mal percebemos do que se trata, melhor ainda. E não é mera preguiça, a questão é cultural - fomos nos adaptando à comodidade das coisas e achando bom. E aí cansamo-nos de qualquer caminhadinha de dez minutos. Mas não é só da caminhadinha, cansamo-nos de todas as referências de movimento a que somos submetidos.
E há um agravante nisso tudo. Nosso corpo e nossa compleição física são organizados para o movimento - andar, correr, pular etc. Como não nos movimentamos, entramos em um processo de atrofia. E como não nos movimentamos, não sabemos mais como motivar as crianças que estão sob nossa responsabilidade. Filhos e alunos acabam reproduzindo nossa variável de acomodação.
Outro dia, uma professora altamente comprometida com o seu trabalho, a quem admiro muito, reclamou de o quanto as crianças não sabem brincar. Em sua reclamação, constatou que aquelas brincadeiras ingênuas da infância perdida - pular amarelinha, brincar de corre-cotia etc - eram do total desconhecimento das crianças de sua sala. Logo, pensamos no analfabetismo motor - essa categoria da modernidade, que estabelece o desconhecimento dos códigos do movimento, e já tão amplamente estudada nas cátedras preocupadas em recuperar o espaço desse movimento. E já que se trata de um caso de analfabetismo, é preciso que ensinemos.
Em Educação, a responsabilidade é muito grande. E, se você é agente pedagógico que trabalha com as séries iniciais ou com a educação infantil, essa responsabilidade, então, aumenta e muito sua dimensão. É preciso que estejamos preparados para lidar com essa situação do analfabetismo motor. Alguns caminhos precisam ser trilhados para que esse trabalho seja desenvolvido de uma forma mais positiva: no início, é fundamental que reflitamos sobre os nossos limites e nossas habilidades em relação a esse grau de analfabetismo - é preciso olhar para nossas percepções e verificar qual é o nível de nosso envolvimento em relação aos aspectos motores; é preciso, ainda, que tenhamos um repertório, constantemente renovado, de brincadeiras e atividades lúdicas que propiciem o movimento; é necessário, também, que façamos aliados nos trilhares dos nossos rumos - direção, coordenação, pais, colegas etc -, para que incluamos em nossos propósitos o maior número possível de pessoas que possam nos ajudar na empreitada; por fim, é preciso que saibamos apresentar as propostas aos alunos e pais e colegas com aspectos de motivação, de significação e de contextualização e embasamento pedagógicos.
Note que o primeiro caminho apresentado é o da auto reflexão... é o passo mais importante e valioso no lidar com o analfabetismo motor. Isso porque o problema não é da juventude, como querem que entendamos. O problema alcançou-nos em uma dimensão que nem nos damos conta mais - simplesmente, nos acomodamos e nos ressentimos das dores e cansaços do nada fazer.
Ao lidar com o analfabetismo motor, preciso olhar para os descaminhos em que me encontro, em relação ao tema. Nesse sentido, buscar aceitar os chamados resultantes daquelas motivações ditas lá acima, que procuram criar-nos uma nova identidade - a do movimento - em relação as aspectos sedentários da vida.
A Educação só tem a ganhar, no propósito de formação e de desenvolvimento de uma geração, não só mais saudável, mas em consonância com as variáveis humanas. 

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