quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Anotações - Ver

Há um cartaz interessante nos postes da cidade. Uma imagem de um gato ilustra a pergunta: "Você viu esse gatinho?  Ele não está perdido, nem nada. Eu só queria que você o visse".
O cartaz brinca com aquelas mensagens de animais perdidos, que tanto comove os passantes, e, inevitavelmente, as pessoas são levadas a pararem para pensar na comunicação. É interessante! E aí vem a reflexão curiosa: o cartaz só queria que víssemos o tal gatinho. Aliás, é a sua pergunta inicial.
Para além de muitos símbolos que há na mensagem, há a sempre questão de o quanto estamos deixando de ver as coisas ao nosso redor. Movidos pela pressa, pela desconfiança, pela absorção dos equipamentos tecnológicos, estamos mais e mais nos voltando para os espaços internos de percepção... deixamos, cada vez mais, de olhar para o externo. É até sintomático que, a cada dia, mais e mais pessoas adquirem o hábito de movimentarem-se de cabeça baixa, voltados para as diversas funções dos sempre avançados aparelhos celulares, deixando escapar referências importantes do cotidiano.
E, assim, vamos levando a vida. Deixando de perceber o outro. Deixando de perceber os caminhos. Deixando de perceber as mensagens do dia a dia. Deixando de olhar as sensações que se descortinam pelas janelas. Deixando de conversar com os outros passantes. Deixando de sentir a vida que se abre aos olhos. Deixando de perceber as oportunidades que nos veem. Deixando de lado as referências poéticas da existência... Mas, também, deixando de lado as referências técnicas e racionais da mesma existência... Enfim, vamos estreitando nossa visão de tudo o que nos completa.
O cartaz que apenas queria que víssemos aquele gatinho conduz-nos a uma grande inquietação de o quanto estamos nos constituindo.

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