Dois fatores destacam-se nos movimentos cotidianos: as pessoas estão mais desatentas e mais agressivas. Ainda não consigo precisar se há uma relação direta entre as duas características, mas é possível vislumbrar, sim, uma certa sintonia entre um fator e outro. A falta de atenção aos mais diversos estímulos existentes reflete em um certo ensimesmamento, que leva ao descuido com o outro (seja uma pessoa ou um espaço). A principal consequência é a tal agressividade, já que não há essa referência elaborada do outro.
Tangenciando os dois movimentos está o da desumanização. Por mais otimista que sejamos, vivemos o fenômeno da desumanização, a perda dos valores humanos. Como se a sociedade caminhasse para aquelas cenas que já vimos em filmes de ficção científica, quando é retratado um futuro distante: o império das máquinas e o ser humano vivendo em guetos cinzentos, quase sempre escondidos e fugidos das atrocidades que o roteirista imaginou. Imaginou mesmo?
Se olharmos com atenção no cotidiano das idas e vindas da atualidade, é possível enxergar alguns movimentos que corroboram essa imaginação. Pessoas correndo para lá e para cá, quase sempre esbarrando-se umas nas outras... quase sempre xingando umas às outras quando acontecem os esbarrões. E quase sempre distantes do que está acontecendo ao redor.
Não é ficção científica. Estamos mais desatentos aos estímulos externos, sejam eles quais forem, e valemo-nos dessa desatenção para representar a agressividade.
É quase impossível não se lembrar da cena do filme do Chaplin, já dita aqui muitas vezes. Em O Grande Ditador (filme de 1940), o personagem central, lá pelo final do filme, proclama o discurso que ficou famoso, em cujo enredo apontam-se as palavras que nos interessam por aqui: "Mais do que de máquinas, precisamos é de humanidade...". E a referência às máquinas, ainda que no filme possa ter outra dimensão, impressiona por vivermos em um movimento social em que a tecnologia é imperiosa.
Os indivíduos, de maneira geral, caminham, nos dias de hoje, para um pressuposto de individualização muito destacado. Tomem-se os aparelhos de telefones celulares, por exemplo, que coloca o sujeito em um movimento de desatenção social que impressiona. Claro que a ferramenta em si não é a causa do problema. Todo e qualquer aparato tecnológico, como todas as variáveis que nos cercam, revelam aspectos positivos e negativos. Uma das vertentes negativas está, justamente, em proporcionar o afastamento das pessoas.
Quem tem algum tipo de voz influenciadora precisa valer-se disso para criar situações pedagógicas que vão de encontro a essa realidade. Professores, pais, amigos, colegas de trabalho etc. precisam acrescentar em seus diálogos referências que facultem a reflexão sobre esse mundo em que vivemos. Vejam que o caminho é esse mesmo, o da reflexão. Devemos trazer à consciência o problema que enfrentamos - antes, é claro, precisamos enxergar o problema - e, a partir dessa consciência, trazer aos pensamentos leituras racionais e críticas da situação.
Mesmo que seja um movimento pequeno, quanto mais pudermos realizar essas intelectualidades, tanto mais estaremos promovendo situações de mudança, em que podemos vislumbrar um mundo muito mais humano.
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