Fiquei um tempo reparando na mãe, com seu bebê de colo, no vagão do trem. A criança, curiosa aos estímulos que o externo lhe propiciava, exigia um pouco da mãe. "Ali é uma placa"... "Vovô"... "Caminhão"... "Carros"... "Azul"... "Blusa da mamãe"... "Ônibus"..., ia dizendo ela ao que estivesse na direção dos olhos saltitantes e questionadores do menino. E a mãe ia denominando as coisas não só atendendo a curiosidade do pequeno, mas como se ela também absorvesse aquelas denominações pela primeira vez. Aí, tanto a criança quanto a mãe divertiam-se nesse jogo. E reinava uma paciência impressionante - se a criança não entendia muito bem a denominação de um referente qualquer, seus olhinhos tratavam de explicitar o que ainda a fala não podia atender; a mãe repetia, mudando a entonação - ou enfatizando uma letra ou uma sílaba, com a intenção de deixar tudo mais claro... Era um jogo interessante de se observar.
Pensei no princípio filosófico da aprendizagem: é preciso que exista alguém dotado de um saber estabelecido por algum princípio (idade, escolaridade, especificidade técnica etc) e outro alguém com uma curiosidade de aprender aquele saber - ao primeiro, cabe a definição de estratégias e de métodos que tornem significativos esses saberes; ao segundo, cabe a curiosidade e a vontade de estabelecer sentidos ao que é transmitido. Sobretudo, é necessário que entre um e outro haja o estabelecimento de um vínculo consolidado, que permita leituras correspondentes aos desejos recíprocos - assim, um percebe e entende os sinais do outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário