terça-feira, 7 de julho de 2015

Anotações - Seguir os próprios passos

Há um poema, Cântico Negro, do poeta português José Régio, que vale uma olhada em seus versos. Cântico Negro é um texto que inquieta e conclama o leitor a refletir sobre suas potencialidades, principalmente a de seguir seus próprios passos, em um universo que somos impelidos a seguir os "sábios" e "mestres". "Vem por aqui", começa o poema, em um tom quase sedutor para que o discípulo não se perca em outros espaços. Não sei se conhece o texto, mas há uma versão interpretada por Maria Bethania, que considero interessante de se ver. (Clique aqui para acessar a versão).
O poema contesta, a todo o momento, essa sedução. "Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos...". A contestação carrega um tanto de confiança e de segurança no que se constituiu o eu-lírico, o que nega seguir os passos de outrem. Não é tarefa simples a de ser determinado, muito menos ser confiante, mas refletir sobre as próprias potencialidades e o reconhecimento dos limites e das possibilidades que a sua competência inscreve é o que vai nos dar a tal segurança.
É preciso que saibamos nos portar diante dos encaminhamentos que a vida nos impõe. Às vezes, até podemos seguir alguns movimentos, se os sabemos interessantes para a nossa evolução, mas, em certos momentos, precisamos nos espelhar nos ditos do Cântico Negro: " (...) Não sei por onde vou, / Não sei para onde vou. / Sei que não vou por aí!". 

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