Nestes últimos tempos, em conversas com Educadores ou em observações várias, tenho colhido anotações que dariam verdadeiras histórias pedagógicas. São apontamentos, a bem da verdade, em que se verificam situações críticas e situações merecedoras de altos elogios. Pretendo, em algumas publicações por aqui, apontá-las, mais a título de reflexão. Não é intenção fazer apologias de qualquer natureza, já que os aspectos críticos, por exemplo, nem sempre resumem as deficiências, unicamente, do educador; em alguns casos, o próprio sistema contribui para a perpetuação de um aspecto.
De outro lado, as situações elogiosas, por si só, não representam avanços significativos que busquem mudanças representativas. São acontecimentos elogiosos porque mostram que existe luz no fim do túnel.
Nesta primeira publicação, vou abordar três casos de apreciação negativa.
O primeiro diz respeito a um tópico bastante nevrálgico nos sistemas educativos, a avaliação. É preciso pensar, cada vez mais de forma elaborada, os sistemas de avaliação. Já há algum tempo, ainda como professor, esses sistemas incomodavam-me os pensamentos. O sistema de notas, por exemplo, não me diz muita coisa – o resultado de um valor expresso em um boletim não nos aponta nenhuma variável de verificação de aprendizagem, já que inúmeros fatores podem ter contribuído para aquele apontamento. E, ainda, o sistema de mensuração também não aponta, em minha opinião, qualquer possibilidade de reflexão maior: a nota 7,0 expressa no boletim não significa, necessariamente, que o dono daquele valor sabe menos que o que sustenta um 9,0 em seus registros. É fato! E é justamente um subproduto desse problema do sistema que desemboca em minha observação crítica: é possível verificar uma completa falta de significado nos instrumentos de avaliação, tanto no preparo quanto nas correções.
Lembro-me, a título de ilustração, de uma velha conversa na sala dos professores, em que um dos colegas, indisposto com uma das turmas sob sua responsabilidade, prontificou-se a colocar algumas questões em sua prova de tamanha dificuldade que, segundo sua fala, nem ele mesmo conseguiria resolvê-las... Ora, seria uma avaliação para “ferrar!” os alunos e não para estimular a aprendizagem. Em outra história, o professor, ao corrigir uma questão de alternativas, até sabia que a resposta do aluno estava correta, mas apontou-a como errada porque o gabarito – retirado de um livro - anotava outra solução... Lamentável, mas ainda sonho com um sistema de avaliação em que, mais importante do demonstrar se o aluno acertou ou errou, se estimulem os reais valores da aprendizagem: construir e modificar os conhecimentos.
O segundo caso de apreciação negativa de minha parte refere-se à ideia de preparo e de formação do professor. Por mais avanços que estejamos verificando nessa questão, ainda há certa leniência ao tópico. Em algumas instâncias, nem se verifica se o professor está, realmente, habilitado para o trabalho. O resultado imediato aparece na sala de aula: desinformação, falta de competências básicas, falta de conhecimentos fundamentais dos conteúdos a serem trabalhados, falta de preparo no desenvolvimento dos conceitos do currículo, falta de consciência crítica em relação aos ditames pedagógicos, desconhecimento das relações de aprendizagens... e por aí vai.
O melhor exemplo ilustrativo que me vem é o do professor que, em determinado momento, pediu-me que lhe falasse de certo livro a ser adotado em uma de suas turmas. Seu interesse não era de buscar reflexões sobre a diversidade de leituras... era mais prosaico: ele não havia lido aquele livro – nem pretendia lê-lo – e precisava de algum modo cobrar alguma coisa das leituras de seus alunos.
Não vejo como dourar a pílula sob esse ponto. É preciso que sejamos responsáveis em nossos processos de formação: a partir do momento em que me proponho – ou sou obrigado - a trabalhar pedagogicamente algum conceito, tenho que ser responsável o suficiente para preparar-me, sob diversas nuances, dos variados aspectos que abrangem aquele conceito.
Para finalizar minha abordagem dos referenciais críticos observados nos espaços pedagógicos, vem-me aquele que transcende tais espaços. É a questão do reforço negativo. Esse, até entendo, que existe em qualquer espaço da sociedade, mas que nas escolas transborda e perfaz seu cotidiano. É o que representa a questão da valorização dos aspectos negativos, do que se deixou de fazer, enquanto se esquece de observar os pontos positivos. Um dos mais perniciosos subprodutos dessa questão é a, já comum, característica de culpar os alunos de todas as mazelas que o sistema educacional apresenta.
Ao ampliar nossa reflexão sobre as questões pedagógicas, de maneira que consigamos vislumbrar novas variáveis de modificação de realidades, já teremos encaminhado passos de mudanças necessárias à qualificação mais positiva dos trabalhos pedagógicos.
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