No caminho das leituras racionais sobre os desenvolvimentos dos espaços pedagógicos, iniciei, aqui, na publicação da semana passada, uma análise a partir do viés crítico dos comportamentos ou atitudes verificados em alguns momentos da história dos trabalhos. Admito que foi uma publicação meio acinzentada, mas que cumpriu seu propósito, o de expor situações em que se pesem leituras críticas. O que é preciso dizer, a título da verdade, é que tais situações - as que representam conceitos negativos - são em menor ocorrência. A bem do testemunho da qualidade do trabalho pedagógico que desponta nas instituições, de uma maneira geral, as situações dignas de elogios são em maior número e as que representam maior significado no processo de desenvolvimento dos alunos.
Cotidianamente, um verdadeiro exército de ótimos professores desbravam suas carências - as mais diversas - para oferecer aos alunos o que há de melhor em oportunidades de evolução nas aprendizagens.
Lembro-me, para ilustração inicial, da professora que driblava as deficiências de estruturas da sua escola para motivar seus alunos com propostas de vanguarda (ainda pensada assim, lamento!): sempre vinham aulas com leituras de poesias e de histórias, brincadeiras as mais diversas, jogos pedagógicos inventados com tampinhas de garrafas, oficinas de elaboração de papel artesanal e de culinárias, construção de hortas... e por aí vai. Tudo, diga-se, em verdadeiro confronto com os materiais pedagógicos estabelecidos (que, lamentavelmente, não previam o desenvolvimento dessas atividades como recurso altamente eficiente...) e com a inércia de colegas e sistemas que compunham o quadro de trabalho. (Pronto, já estou na leitura da criticidade... mudemos esse caminho.).
Durante algum tempo, trabalhei com um verdadeiro guerreiro dessa manifestação positiva. Aquele professor valia-se das realidades tangentes (música, filmes, leituras de jornais etc.) para transformar o universo de suas aulas. E a sala era um laboratório de experimentações incríveis, na estimulação de aprendizagens concretas e significativas de verdade.
Ao aguçar essas lembranças, vem-me um conjunto de referências que ajudam-me a pensar a questão da positividade das ações pedagógicas, Por exemplo, o espaço físico é um tópico de alto valor na compreensão dessa questão. Eu trabalhei em uma escola, cujo pátio lembrava aquele cenário de sítios e chácaras: árvores frutíferas e céu aberto, por onde se podia descortinar (metaforicamente) verdadeiras quebras de limites de ações. Era possível dar uma aula sobre Arcadismo, por exemplo, criando (e vivenciando) uma imagem de contato com a natureza, questão tão cara àquele período. Obviamente que esse pressuposto precisa estar em consonância com as permissões dos diversos agentes que atuam, também, nos espaços pedagógicos: diretor, coordenadores, demais funcionários etc. Então, o conceito de atmosfera pedagógica positiva (naquela época, verificado) torna-se um elemento indiscutivelmente valoroso nos caminhos de um trabalho qualitativo.
Outra questão é a interminável discussão sobre as ferramentas tecnológicas de que dispomos, no que tange ao quanto elas favorecem (ou não) os processos pedagógicos. Como ilustração comum, temos o fato dos aparelhos de telefones celulares serem tratados como inimigos das aulas. Ora, os jovens estão mais antenados aos sistemas tecnológicos do que os professores, de uma maneira geral. Assim, é louvável, por exemplo, a história daquela professora que, em vez de abolir o uso dos celulares em sala de aula, incentivam, até, sua utilização como recurso pedagógico. A equação é simples, acreditem: a utilização de uma linguagem pertinente ao universo dos jovens representa uma maior aceitação dos conteúdos curriculares a serem trabalhados. É o caso, também, de um outro caso que conheci, o de uma professora de Artes que resolveu trabalhar seus conceitos com seus alunos valendo-se do universo mitológico e artístico de um jogo popular que os alunos tinham instalado em seus aparelhos celulares. E o de outra professora que se valeu da popularidade das redes sociais para incentivar seus alunos a usarem desse recurso para criarem uma rede de comunicação sobre a história do seu bairro (nesse caso, a ideia transcendeu os limites da escola para transformar-se em um aplicativo que demonstrava a história da região em que os alunos moravam... fantástico! Fantástico, como deve ser toda ação educativa!).
Lembro-me, ainda, da ação de alguns professores que incentivaram a mobilidade urbana como elemento pedagógico - uma ação extra-muros muito interessante.
E há, ainda, tantas histórias a serem mostradas. Prometo voltar, de tempos em tempos, a esses elementos dignos de elogios para a transformação da realidade em que vivemos, através de verdadeiros heroísmos pedagógicos. Explico o apontamento do "heroísmo": em todas essas lembranças, vem-me a questão de que aqueles professores sempre nadaram contra corrente: foram contestadores de uma realidade que oprime, não se detiveram à falta de recursos, não retrocederam a partir da verificação de que aquilo daria um enorme trabalho e, sobretudo, guardaram a relação de que estariam, repito, provocando uma enorme transformação no processo de desenvolvimento pessoal de seus alunos e de seu trabalho.
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