quinta-feira, 10 de março de 2016

Anotações - O discurso técnico e o discurso poético

Eu fiquei com o verso na minha cabeça: "A certeza ventilada de poesia...". A letra é da música "Lua e Flor", do Oswaldo Montenegro... Se não conhece, clique aqui. Lembrei-me de uma atividade que desenvolvi por longos anos, "Um pouco de poesia nas agruras do dia a dia". A referência era a mesma: arejar as certezas com um pouco de poesia.
Caminhamo-nos por medidas racionais, como se a seriedade fosse a instância que corroborasse a responsabilidade. Se somos sérios, técnicos, então somos responsáveis. E nessa matemática há pouco - ou nenhum - espaço para a poesia. A poesia, nessa variável, é considerada perniciosa ou, pior, inútil. Não há valor, nem constatação de para que ela serve. Quando julgada de maneira cruel, é dito da poesia como algo que nos desconecta dos espaços reais, alienando-nos da vida que corre lá fora.... Coitada da poesia! Julgada mal, mal compreendida.
A questão é que a poesia não se desincompatibiliza da vida. Se somos humanos, a todo o instante a poesia nos lembra da vida que corre em nossos corpos. Originado do grego "poiesis", que está na direção da essência do agir, o sentido original da palavra "poesia" está relacionado mais aos aspectos da razão do que aos emocionais. Há, ainda, uma ligação com a ideia de "sentir", pressuposta na razão de que o que está nos sentimentos está na vida. Somos o que sentimos.
Quando eu entendo que é possível ventilar (no sentido de arejar mesmo, de criar respiros) toda a certeza que me cerca, estou buscando um espaço em que o discurso técnico e o discurso poético estejam, integrados, consolidando as variáveis da vida. Esta vida que pede técnica e poesia, sem conflitos, nos caminhos da evolução.


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