segunda-feira, 5 de junho de 2017

Indisciplina

Não há como negar: existe uma dificuldade muito grande para os agentes pedagógicos em lidar com as questões de indisciplinas nos ambientes escolares. Entretanto, penso que sempre foi assim. Temos uma grande dificuldade em lidar com situações que desestruturam as normalidades das programações.
Mas é preciso refletir na questão, já que ela compromete cada vez mais. Não apenas a normalidade das estruturas, mas também a saúde (física, emocional e psíquica) dos agentes. É necessário que saiamos, de imediato, com a pergunta: o que provoca aquela indisciplina que nos perturba?
Não é questionamento simples, que traz respostas imediatas, já que ela embute posicionamentos nem sempre tranquilos. Por exemplo, ao questionar o que provoca a indisciplina, eu posso ter como resposta principal ser a minha própria atuação, provavelmente desprovida de significados, a causadora do desinteresse que leva à situação de indisciplina. Não é tranquilo lidar com isso, já que é mais fácil colocar as razões do processo nos planos externos: os alunos, a escola, as famílias, as realidades cultural e social etc.
Sim, todos esses planos externos podem contribuir, sim, para a questão. O que pode me levar a deslocar para eles a análise rasteira do problema.
O pensamento crítico e racional é uma ferramenta interessante de análise de um problema qualquer. Mas ele exige que se levem em conta todas as possibilidades. Vamos, então, a esse exercício.
Em todas as instâncias de trabalho, as escolares inclusive, vivemos já há algum tempo, esse momento de burocratização dos sistemas. Para nos acomodar diante das perspectivas incontroláveis do trabalho, preferimos estabelecer normas e procedimentos sistemáticos que antecipam os problemas e preveem as melhores alternativas de soluções. Do ponto de vista das intenções, penso, até, que sejam estabelecimentos necessários, mas o efeito colateral disso tudo é que nos tornou automatizados para as funções gerenciais: ao menor sinal de desvio de alguma normalidade, olhamos para os diversos manuais e sistemas inventados e olhamos para as seções que nos antecipam as respostas... e o que é melhor, às vezes, os tais manuais até explicitam o que devemos dizer em determinadas situações. Esse ambiente tornou-nos incompatíveis com as questões dinâmicas da vida, em que as respostas aos movimentos cotidianos não podem ser previstos ou antecipados; é preciso ter expedientes e leituras legítimos para ações rápidas que neutralizem um movimento considerado negativo. Não é esse o caso da indisciplina nos espaços escolares?
E essa burocratização das atuações leva-nos a atividades destituídas de significados que motivem participações positivas.
O que nos leva a uma questão tangente: vivemos uma realidade cultural, já há algum tempo, que pressupõe vivermos eras em que não queremos ter trabalho para nada; ou dito de outro jeito, tudo o que nos dá trabalho, acaba sendo um estorvo muito grande. E aí preferimos as soluções imediatas e sem análises preciosas. E resolver um problema de indisciplina, como já exposto acima, demanda um certo trabalho.
Há, ainda, o problema da realidade social a que estamos submetidos: as famílias estão desestruturadas, o que leva ao contexto da falta da parceria necessária com esta instituição, além da situação cada vez mais notada do fortalecimento do poderio dos alunos frente aos agentes naturais de autoridades (pais, professores, patrões etc). Claro que há também, aqui, o problema da autoridade descabida, mas não vamos estender mais na análise.
Nessa realidade, cada vez mais as Escolas estão, também, partícipes desse problema de descontrole de autoridade: os diretores não têm autoridade sobre os demais agentes escolares e em todas as instâncias descortinam-se esse problema. Observa-se uma total falta de integração entre todos os agentes pedagógicos, em que uma das principais consequências é a falta de responsabilidade estabelecida para as tomadas de decisões.
Bom, o problema é grande. Mas, se tivermos um posicionamento de reflexão crítica diante dele, em busca de posicionamentos mais positivos, é possível que alcancemos, senão a solução difícil, pelo menos as respostas imediatas e pertinentes que o problema requer.

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