segunda-feira, 17 de julho de 2017

Cultura de aprendizagem

Estava encartado no jornal Folha de S. Paulo, neste domingo, dia 16 de julho, um caderno especial, de caráter publicitário, sobre Educação (o Estúdio Folha), que trazia na capa a seguinte chamada: "Avante! Trabalhar, no século 21, exige cultura de aprendizagem ao longo da carreira.".
Quem acompanha as publicações deste espaço sabe que a ideia do desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem é tema recorrente em minhas exposições. Há uma necessidade a ser sempre pensada, em relação aos propósitos de Educação, de os caminhos estarem sempre voltados a esse movimento contínuo de formação, em que não se esgotam as disposições em aprender.
O conteúdo do dito caderno privilegia os espaços formais de aprendizagem: as universidades e seus cursos de extensão e de especialização. Muito importante, nos dias modernos, essa preocupação com a busca da formação teórica e acadêmica oferecida pelas instituições consagradas. Entretanto, a minha ideia do estabelecimento de uma cultura de aprendizagem vai muito além das possibilidades teóricas ofertadas pelos espaços formais.
É preciso que o indivíduo entenda o conceito de aprendizagem para além desse estabelecido formalmente. O próprio caderno, que me inspirou esta publicação, ajuda-me na exposição. Ali, pelo caráter de conteúdo patrocinado, há, em cada página, um anúncio de uma instituição de ensino. E é aqui que me vem a principal variável de entendimento do meu tema. É preciso distinguir, conceitualmente, as ideias de ensino e de aprendizagem, tomando como ponto de partida analítica o sujeito que busca a formação.
A referência de ensino está balizada em algum aspecto externo (a escola, a universidade, o livro, o professor, a palestra etc.); a de aprendizagem, por outro lado, está calcada nos aspectos internos de quem busca a formação (o entendimento, a motivação, a determinação, os limites, as competências, as capacidades, as habilidades etc.). E é importante que os dois determinantes estejam concatenados: uma boa instituição de ensino vai contar com a melhor estrutura de formação (os aspectos do ensino), sem perder de vista as variáveis que interferem no processo de aprendizagem (o entendimento do aluno e o dos ambientes formativos).
Fora disso, estão as dissonâncias. Pode ser o melhor grupo de professores, mas que não conseguem fazer com que os alunos aprendam. Pode ser a melhor disposição de os alunos quererem aprender, sem o apoio estrutural que favoreça essa disposição. Pode ser a realização dos melhores projetos pedagógicos, sem que estejam integrados aos espaços de vida... E assim por diante: ensino e aprendizagem são temas que precisam estar integrados, senão um dos referentes vai ficar sempre prejudicado. Como na música do Beto Guedes, "a lição sabemos de cor, só nos resta aprender...".
Além dos aspectos formais, a busca de formação deve estar antenada a inúmeros espaços informais em que a aprendizagem está muito mais voltada às características internas do sujeito. Vai estar na percepção, e no quanto essa habilidade está desenvolvida, o reconhecimento de situações que favorecem o crescimento pessoal. A lista é imensa, mas vamos lá na citação de alguns elementos: um filme a que você assiste, uma conversa despretensiosa e casual, uma música que você escuta, uma imagem que lhe chega, um pensamento que lhe acomete em alguma ocasião... e por aí vai. São tantos os elementos que podem se transformar em situações de aprendizagens.
A ideia de cultura de aprendizagem está em como nos comportamos diante desses elementos, de maneira consciente e ativa. Quanto mais nos apercebermos dessas situações, tanto mais estaremos alimentando essa referência de cultura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário