Fazer se entender e entender os outros têm parecido verdadeiro suplício nestes dias em que vivemos. Parece termos perdido, paulatinamente, a capacidade de bem nos comunicarmos. Estamos em um momento de sociedade que caminhamos, justamente, para o sentido inverso, o de não nos esforçarmos muito para entender o outro.
A comunicação sempre foi a chave de positividade em qualquer relacionamento - familiar, social, profissional - e, lamentavelmente, estamos nos distanciando desta competência. Tecnicamente, a comunicação é até um processo simples: há um emissor, que se vale de uma mensagem em um código comum, direcionada a um receptor para que se configure o propósito daquela mensagem; em havendo desentendimento, retoma-se o ciclo.
A capacidade de bem comunicar-se, entretanto, não é só dominar o tal código comum e dizê-lo da melhor forma possível a um receptor, também dominante do mesmo código. É preciso uma habilidade maior, que é a de negociar e intermediar a compreensão da mensagem - nesse sentido, faz-se necessário um domínio das variáveis humanas inerentes ao processo de compreensão: sabedoria, percepção, sensibilidade etc. E é aqui, na minha opinião, que reside o problema.
Estamos em uma fase da humanidade em que perdemos a paciência de nos relacionarmos com o outro: não conseguimos ouvir o outro; estamos sempre com pressa; nossa capacidade de leituras - tão valorosas a propósito do tema sobre o qual estamos refletindo - anda rareada; andamos distanciados dos círculos de convivências reais... E aí, vamos perdendo a capacidade de elaborar relações, sejam elas tácitas ou não.
Justamente, por essa referência, somam-se outras características, resultantes do que se explanou - a parca capacidade de compreensão do mundo e as dificuldades de entendimento; a falta de vontade para dedicar-se, em tempos perdidos, à compreensão do que nos rodeia; a falta de jeito em estar próximos de outras pessoas (o que, em justa medida, um estudioso português denominou de "analfabetismo social", para referir-se a esses tempos que atravessamos); e tantos outros tópicos que poderiam ser citados.
No que se refere às reflexões pedagógicas que propomos aqui - sejam elas direcionadas aos espaços escolares ou aos de desenvolvimento pessoal de maneira geral -, é preciso que assumamos um papel de contrariedade ao movimento que se instaurou: se as variáveis humanas estão em desprestígio, o meu trabalho deve ser, exatamente, o de retomar as propriedades em que os seres humanos estão em evidência, na instalação de um caminho em que possamos exercitar a retomada da humanidade; se o espaço de convivência afasta-me da possibilidade de ouvir o outro, o meu exercício é, na obviedade, o de aprender a ouvir, com todas as nuances que essa aprendizagem me destina; se a modernidade instala a cultura da pressa, devo me apresentar em pensamentos de o quanto essa pressa interfere no meu espaço de entendimento do mundo que me cerca; se as leituras estão equivocadas, meu movimento deve ser o de aprimorar a referência, vestindo-me de informações e conhecimentos a positivarem o que leio da minha realidade; por fim, devo refletir, constantemente, sobre o meu papel nas relações de que sou participante, à busca de valores que me tornem agente ativo e positivo do processo de sua evolução.
É nesse complexo e intrincado caminho de evolução que a comunicação torna-se ferramenta de razão valorativa sem igual.
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